Sou uma jovem viúva. Quando pequenina, casei-me. Dizem que hoje em dia isso já não acontece mais; não sei, mas na minha infância isso acontecia o tempo todo. Pois foi aí que casei muito jovem com um moço. O tal moço parecia extremamente saudável, tinha olhos que fingiam brilhar, quando na verdade, me hipnotizavam.
Daí que esse moço me enganou. Parecia saudável, mas rapidamente descobrimos-o gravemente doente. Após um período longo de convalescença, tratamentos paliativos, doença em estado terminal, aparelhos respiratórios, tudo pra prolongar uma vida enferma que não acabava...eu decidi assassiná-lo. Sim, sou uma viúva-homicida, eu confesso.
Mas como nada na vida é simples assim, o que acontece é que o falecido adora ressucitar. E eu, descobri que tenho um lado perverso, que adora matá-lo. E então eu vivo disso: de assassinar o falecido.
É delicioso acabar com ele. Sinto-me inteligente, revigorada, decidida, auto-suficiente. E ganhei de presente do mundo, uma doce ignorância que me permite esquecer algumas coisas, só pra ter o prazer de descobri-las de novo.
É aí que sempre me surpreendo, diante do moço tomando a vida para si de novo. Renasce, aparentemente revigorado, de olhos igualmente hipnotizantes, ataques de riso sedutores. Mas logo cai enfermo novamente. E eu torno a matá-lo. Mato-o todos os dias, mas ele ressucita como ninguém. Pois se eu o mato, é para que ele possa nascer novamente. Porque o meu falecido chama-se amor romântico. Jovem-viúva-homicida. Eis o que eu sou.
27 comentários:
No começo não estava entendo, mas achei o desfecho bem inteligente!
um beijão
Qta insistência!
que o diga o meu tb...
Logo que você falou que o falecido adorava ressucitar pensei: amor.
rsrs
Sempre me identifico com o que vc escreve, acho q por isso volta e meia escrevemos coisas que lembram uma à outra. :)
Adorei, mesmo, Alicia!
Penso que algumas mortes são necessárias.
GENIAL po!!! Gostei demais!!!
ah! não mate, d~e a ele um pouco amis de realidade, não o deixe arrasta-la para a enfermidade com ele, arraste você ele consigo para onde brilha lucidez, nunca passei com ele pelso campos dacegueira.
Se bem que este seu matar, esta viuvez desejada e a ressureição tbm desejada é quase isto
Tão bom ler coisa inteligente, uma idéia é só uma idéia, o que a torna espetacular é a maneira como é contada
Bjs
Desculpe Alicia, repetindo, agora com mais juízo nas letras:
ah! não o mate, dê a ele um pouco mais de realidade, não o deixe arrasta-la para a enfermidade, arraste você ele consigo para onde brilha a lucidez, nunca passeie com ele pelos campos da cegueira.
Se bem que este matar, esta viuvez desejada e a ressureição também desejada é quase isto
Tão bom ler coisa inteligente, uma idéia é só uma idéia, o que a torna espetacular é a maneira como é contada
Bjs
Desculpe Alicia, repetindo, agora com mais juízo nas letras:
ah! não o mate, dê a ele um pouco mais de realidade, não o deixe arrasta-la para a enfermidade, arraste você ele consigo para onde brilha a lucidez, nunca passeie com ele pelos campos da cegueira.
Se bem que este matar, esta viuvez desejada e a ressureição também desejada é quase isto
Tão bom ler coisa inteligente, uma idéia é só uma idéia, o que a torna espetacular é a maneira como é contada
Bjs
Qu etexto lindo, Alicia! Parabéns, tava pensando várias coisas qd tava lendo e o desfecho me surpreendeu!
Beijos, estou te seguindo!
Olá querida Alícia
Maravilhoso seu texto.
Como todos que eu leio aqui...
E se a gente mata o amor é mesmo pra que ele renasça sempre e cada vez melhor e mais intenso...
Beijos
Ani
Eu tento matar esse amor que sinto todos os dias em meu peito me identifiquei muito com suas palavras amei amiga.bjos de bom dia.
Uma viúva negra? Que tal ein?
todos nós somos viúvos de algo, mas dá pra recomeçar sim!
eu simplesmente adoro o que tu escreve guria.
até mais!
Estaria a Alicia brincando de "fort-da" com o amor?
Hahaha
Ótimo, Arthur.
Em cheio.
Que ELE ressuscite várias e várias vezes!
Adorei, Alicia!
=)
Beijos e obrigada pela visita de sempre em meu espaço!
Você escreve lindamente... a gente se envolve, se embriaga... e no final, se surpreende!
Beijo!
Que visão baudelairiana de amor! Quanta morbidez. Adoro suas palavras. Adoro. Adoro tanto que vou matá-las, todas, pra que elas continuem nascendo, em cada post.
Praticamente um pacto de boa convivência. Gostei.
=**
Li o texto 3 vezes por puro prazer!
Se estivesse escrito em um livro eu grifaria com meus marcadores neon removíveis (para não riscar as páginas): "Mato-o todos os dias, mas ele ressuscita como ninguém. Pois se eu o mato, é para que ele possa nascer novamente".
Amor-te como a Ana Suy me ensinou!!
Texto incrível, Alicia!
Muito inteligente e interessante."mato-o todos os dias e ele .... "Parece que somos sempre essa viúva.
Uauuu, texto maravilhoso, Li e reli.
Ví úvas..
Beijoo.
quanta intensidade
deixando uma flor
e desejos de lindos dias
visitei seu cantinho ;)
adorei; sou eu também uma assassina perversa.
só penso que, talvez, deixar "oculto" quem, para você, é o falecido seria mais interessante - cada leitor tem a sua leitura.
como disse João Cabral:
"a obrigação do poeta é expressar a subjetividade mas não diretamente. Ele não tem que dizer “eu estou triste”. Ele tem é que encontrar uma imagem que dê idéia de tristeza ou do estado de espírito - seja ele qual for - por meio de palavras concretas e não simplesmente se confessando na base do “eu estou triste”".
abraço
O interessante é que ela só consegue amá-lo quando ele renasce, fiquei pensando se tem algo relacionado com a personalidade dele e ele usa de alguns recursos para ele voltar a ser o que era antes mesmo que brevemente.
Acertei?
Beijos
muito, mas muito bom mesmo!na verdade: excelente!!
Beijocas!!
Bia
Meu deus que texto cool *--*
adoro histórias assim.
beijos
Brilhante!
Você tem o dom.
Grande beijo!
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