Hoje eu vim aqui pra te agradecer.
Obrigada por estar vivo.
É. Simples assim. Não te agradeço por me suportar, por gostar de mim, por viver comigo ou por me amar. Porque se essas coisas acontecem, meu amor próprio diz que é mérito meu.
Mas agradeço a você por permitir que a vida corra pelo seu sangue, atravesse as suas veias e atinja a minha alegria. Agradeço à vida, que introjeta-se em você, contorna todo o seu corpo e reflete em mim. Porque diante dessas coisas da vida e da existência, eu nada posso fazer, senão suportar e amar a falta de sentido.
É porque você vive que eu posso me sentir pulsando. Sei que tenho vida ao sentir o calor do seu peito e o arrepio que me causam as suas mãos. Tenho alegria em inspirar o gás carbônico que você expira, e ter um pedaço real da sua existência. Nada melhor do que sentir o cheiro da sua respiração. Posso passar todo um dia sentindo a textura da sua pele e analisando as milhares de sensações que ela me dá. Posso passar a vida toda apreciando o simples fato de você existir e a cócega na alma que você me causa.
Delícia é acariciar a sua mão e sentir na minha o carinho que eu te invisto. Felicidade é sorrir para você e enxergar os seus olhos, que me olham refletindo e potencializando o meu sorriso, tornando-os um só: o mais sincero do mundo. Delícia é como os corpos se encaixam perfeitamente, ignorando todas as minhas teorias da incompletude e da imperfeição. Contradição é tocar em você, sentir em mim. Porque é no breve instante que não sei quem sou você e não sei quem é eu, que existo. Perco-me nas conjugações verbais e existenciais.
Alegria de existir é achar que posso contar com você pra toda e qualquer coisa, e ter a minha teoria comprovada, uma, duas, três, mil vezes.
Mas quanto maior o amor, maior a agonia. Isso é um perigo, uma enrascada pela qual sou enroscada.
E agonia é, no meio da noite ou de uma conversa, perceber a sua apnéia, quando nem você a sente. Agonia é imaginar que eu poderia sumir, junto com você. Agonia é saber que eu entrego toda a alegria da minha existência nas suas mãos.
Por favor, respire. Senão eu piro.