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quinta-feira, 11 de julho de 2013

Blá blá blá nada a dizer

Sou eu mesma desde que me conheço por gente e ainda não me acostumei comigo.
Mas sei que sem mim as coisas me seriam muito mais difíceis.
É estranho ser uma multidão em apenas um corpo.
É claustrofóbico não poder sair do meu corpo com o tanto de gente que tem aqui.
Preciso me focar nas minhas janelas, que são os buracos do meu corpo.
Me apoio no olhar e de repente já não sei mais o que vi.
Me concentro na minha audição, no meu paladar, nos meus sentidos - que de particípio só têm a conjugação...!
Sou puro gerúndio.
O presente do indicativo é carinho na minh´alma.
O imperativo me excita.
O pretérito só sabe lembrar das minhas imperfeições.
O futuro tem a audácia de me voltar ao pretérito.
Malditos tempos.
Desde que conheço o relógio só sei odiá-lo sem poder deixá-lo.
Desde que conheço o espelho só sei amá-lo sem querer a minha imagem.
Queria um pedaço de espelho que fosse comestível.
Queria comer-me.
Narcisismo.
Autofagia.
Sumi.

(UFA)