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sexta-feira, 28 de outubro de 2011

O tapa



Texto da semana pro blog 4 pecados.

"Embriagados da falta de palavras, o moço a sentou na cama. Ajoelhou-se em sua frente e ensaiou lhe beijar a boca. Ela, toda prosa, fez o seu melhor bico para esperar o beijo que não veio. Ele foi direto ao pescoço. Minha calcinha tá pegando fogo, pensava ela, que desconhecia a estranha sensação que é pra uma mulher sentir prazer. Azar do moço, vai se queimar."

domingo, 23 de outubro de 2011

O amor não é líquido, é plástico.



Desde a primeira fincada eu senti que não era normal. Não era sexo. Muito menos essa balela de amor. Era além descrição.
Minha boca molhada desejava a dele, humildemente, mas ele recusava. Deixava-me tonteada e sem sentido enquanto negava... Eu só queria um beijo, só queria arrancar um pedaço daqueles lábios, só queria sentir o gosto de sangue-chocolate que ele tinha... Mas o seu falso poder não me deixava saborear o corpo caprichado.
Sentia suas costas suadas, arrepiadas, quem sabe de tesão. Isso indicava que aquela seria a primeira - ou última - vez que ele fosse comer alguém. E por sorte ou infortúnio eu era escolhida para ser comida e desejada e fodida e amada e beijada por aquele homem.
Estou transando. Estou fodendo. Estou amando. Estou morrendo.
Quantos deuses são necessários para descrever o tesão que sinto quando o seu corpo inteiro toca o meu? Quantas almas morreram para me dar o sentido que sinto quando ele suavemente passeia com sua língua nos meus seios?
E ele me chupa. Cada pedaço do meu corpo parece ser gota d´agua num deserto putanhesco, onde só o desejo impera e domina. Sou sua escrava numa posição e noutra sou sua dona. Ele me chupa e eu imagino...
Numa ultima dose de sofreguidão imaginária, ele mexe os quadris, quando dentro de mim. Rebolava e ao mesmo tempo murmurava palavras que me destruíam... Cada mexida sua, era um orgasmo dançante ao som de ninfas.
Ele gozou, e eu pensava que sentia. Sentia a quentura doce e abençoada que vinha daquele ato de amor... Sentia os últimos vais e vens, como se a cada vai eu fosse violada sem futuro e a cada vem eu fosse amada incondicionalmente...
Neste final sobrou o silencio. Um silêncio doído e necessário que só os amantes sabem a necessidade. Ele não me ama, nem eu amo ele. Tanto amor em mim, e em você nada.
Ele sai de mim, deixando somente seu gosto amargo nas minhas gotas de suor - que só eu sinto. Eu relaxo e rezo. Rezo pelo desejo e pelo tesão de menina que ficou. Choro pelas lagrimas de prazer que quiçá ainda vão vir.
Sobrou somente uma realidade: Te acho tão amável, tão sexy, tão quente... mas a sua existência resume-se apenas a alguns reais trocados por um pedaço de borracha fria, comprada num sexshop qualquer. E, nem de perto você me dá o amor que necessito nesse mundo...


Presentinho



sábado, 22 de outubro de 2011

sábado, 15 de outubro de 2011

Hoje eu decidi excluir os homens.



Mulher tem muito dessas coisas. Ir com a cara de alguém, não ir com a cara de alguém. Não é que homem não tenha disso, é claro que tem, mas isso de "bater com o santo", no universo masculino, sempre tem um tanto de sentido permeando – como tudo, aliás, no mundo dos homens.
Já com as mulheres, as coisas são sempre um tanto confusas, um tanto misturadas, um tanto inexplicáveis. Mas não é porque é inexplicável que é sem fundamento.
Pois bem, eis que por motivos obscuros, nossas almas - femininas -  fazem amizades em segundos de olhares, e criam guerras infinitas em um piscar de olhos.
Alguns chamam de sexto sentido, porque geralmente quando uma mulher não vai com a cara de outra mulher, essa coisa tem motivos que serão descobertos depois. Mas tem motivos.
Acho isso incrível. Nós, mulheres, temos um saber que a gente sabe sem saber explicar. É isso o que me faz escrever. Pra tentar descobrir essa coisa que eu sei, mas não posso nomear. Como se fosse impossível ser plena nas palavras, assim como é impossível alcançar a plenitude na vida.
Às vezes tenho uma tendência a acreditar que nós, mulheres, somos pedaços de uma grande alma. Talvez uma grande mãe. Talvez uma mãe-natureza. E nós que nós somos, todas pedacinhos diferentes da mesma coisa. Então, ainda que a gente não seja outra coisa além de nós mesmas, nós temos o saber de toda a natureza.
Que papo meio wicca. Que papo meio adolescente.
Mas, oras... um q de bruxa e um q de adolescente é pré-requisito pra ser uma mulher, não?

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Dedico esse post à minha irmã-bruxa-de-alma, Ayanne Sobral, que aniversaria hoje. Moça que escreve coisas lindas e colore os meus dias sem saber. Queria eu, na sua idade, ser curiosa assim como você. Que a vida te dê pingos de arco-íris todos os dias, e que você saiba borrá-los da forma mais bonita. Que os pingos não te saciem, mas que também não te impeçam de querer sempre mais. Que você não acredite que os arco-íris têm apenas sete cores, e nem que os gatos têm apenas sete vidas. Que você duvide de tudo e de todos, mas principalmente de si mesma. Que as dúvidas lhe impulsionem sempre para voos altos, e que eles te encham de friozinhos na barriga. Que você jamais faça regime de letras. Que tenha sempre uma alma gorda. E que você queira muita coisa nessa vida.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Engoli uma coroa, mas ela só sabe me espetar



Tem momentos em que não caibo no meu corpo. Fica tudo desengonçado. Se me mexo, esbarro em objetos e derrubo coisas. Se não me mexo, esbarro em mim mesma e derrubo-me toda. Palavras dizem coisas erradas. Silêncios gritam coisas esquisitas. Tudo fora do lugar. Cadê a minha faxineira? Tá abandonada, bêbada, em algum canto meu. E em mim, uma bagunça interior, que só vendo. Tudo fora do lugar. Sentimentos esparramados, demandas escorrendo. Alguém me ajuda, alguém me ama, alguém me adora, alguém... me dá uma bronca, por favor? E às vezes é só disso que eu preciso. Que alguém me olhe firme e não entre nesse meu joguinho de seduzir a todos e todas. Que alguém olhe pra mim e veja o meu corpo, ao invés de se esforçar pra ver a minha alma. Que alguém me pegue de jeito, e me tire o jeito. Que alguém me roube o ar e me deixe encabulada. Porque vezououtra eu engulo uma coroa e acho que sou a rainha da cocada preta. Mas é tudo dramatização, é tudo faz-de-conta, é tudo mentirinha. O que eu quero de você é bem simples. O que eu quero da vida é bem pouco. Não que eu saiba o que é que eu quero, longe de mim! Mas sei que é simples. E talvez por medo de conseguir, e talvez pra florear, e talvez pra dar um tanto de emoção, e talvez porque não sei-de-nada, eu complico. Quer facilidade, bem? A solidão tá aí pra isso. Tô aqui pra complicar a sua vida. Porque complicar só a minha é fácil e insuficiente.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Quero te comer




Numa dessas nem é amor. É um negócio de pele. É uma exigência da boca. Preciso sentir o teu gosto. Salivo de imaginar a textura do teu ombro! Vê se faz sentido isso. Tenho tesão até pelo seu antebraço. Cada milímetro do teu corpo é um troço que me deixa maluca. Não há razão. Teu corpo desencadeia as minhas irracionalidades. Quero comer você. Eu sei que sou mulher e que as coisas não funcionam assim e é o homem quem come e blablablá...mas não é isso que estou dizendo, peraí, você não tá entendendo nada. Quero comer você...assim...mesmo. Sem metáforas. Quero tua pele na minha – para sempre. Quero teu sangue impregnado no meu. Quero sentir o gosto do jantar com a tua língua. Quero tragar o teu cigarro. Quero a agonia da tua asma.
Ah, sem essa de que sou louca. Eu só tenho episódios de sinceridade. Digo isso tudo e em seguida disfarço a minha crueza muito bem. Sorrio, te dou beijo na testa e te acaricio os cabelos. Uma lady.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Lágrimas de Morango



Chorei hoje lágrimas de morango.
Fosse em outros tempos diria que eram lágrimas de sangue. Diria da dificuldade que a condição feminina implica em viver. Falaria que ser mulher é doído, e brincaria com as palavras doido e doído, numa tentativa desesperada de me salvar da minha própria veia dramática – vulgo mimimi.
Mas são outros tempos. O que não quer dizer que eu não tenha chorado lágrimas de sangue. Só que hoje foi diferente. Estava eu imersa num choro quase gostoso, desses que nos remetem à infância, desses que nos fazem soluçar, desses que te fazem ficar em dúvida se chorar faz aliviar ou se faz doer mais. Então, estava eu imersa num choro desses, e um pensamento mal-educado falou na frente de todos os outros. “São lágrimas de morango”.
Não sei bem o que é que isso significa, mas acalmou meu coração. Achei bonito e fiquei orgulhosa desse pensamento ter sido inconveniente com os outros justamente naquele momento. Morangos me acalmam. São vermelhos assim como o sangue, mas mais doces. Vão bem com tudo. De pratos light a calóricos. Contêm as letras de AMOR no nome. É, eu gosto de morangos.
E por algum motivo, também os morangos, assim como o choro, me remetem à infância. Talvez porque quando pequena eu tinha uma boneca que se chamava Moranguinho... Cheirosíssima ela era, aliás.
Hoje eu chorei infância. A minha, a das minhas irmãs e acho que a da minha mãe também. Hoje eu chorei mulher. Lágrimas de amor-ango. Mulher-ango. Ango. Angu. Lágrimas de bebê. Talvez todas elas sejam.