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sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Me esborracho por te amar




Eu estava ali, encantada com a sua capacidade de me despertar taquicardias secretas. Abismada diante da nítida sensação de que você leria os meus pensamentos. Eu te amo, eu pensava. Mentira, amo não. Também eu pensava, logo em seguida, para te despistar de toda a minha queda por você. Eu me apaixonei muito rápido e fiquei torcendo para que você correspondesse, minimamente. E você correspondeu mais do que eu achei que seria possível. Você me amou do mesmo jeito que o meu sonho mais ambicioso tinha sonhado. E aliviada, eu pisquei. Aliviada, respirei bem fundo, ufa. E assim que abri os olhos me vi aqui. Toda inserida numa rotina ao seu lado. Dividindo as contas e as tarefas da casa com você. Dividindo o meu sono e os meus sonhos com você. Testemunhando a sua existência, e querendo que você compartilhe cada pedaço do meu corpo comigo. Puta que o pariu, nem nos meus sonhos de menina mais ousados eu achei que seria possível ter alguém como você do meu lado. É claro que vezenquando ou vezemsempre você muito me irrita e eu tenho vontade de me deliciar te enforcando com as minhas próprias mãos. É claro que uma duas vezes por dia eu te fuzilo com o meu olhar. É claro que muitas vezes tudo é escuro. E é óbvio que nem tudo são flores. E eu nem sei dizer quando é que eu mais te amo. Se é quando você me conta uma coisa muito inútil, mas que eu acho lindo que você saiba, se é quando você me diz uma coisa sem cabimento e eu tenho vontade de te dar um tiro na testa, ou se é quando você, de repente, me dá uma olhada charmosa e cheia de não-intenções. Talvez seja o tempo todo. Me derreto por você. Às vezes me odeio por ser tão fragilizada a ponto de me esborrachar no chão por qualquer palavra sua, mas de nada adianta. Já estou ali, toda desmontada diante da sua existência. Eu nem sei por que é que estou escrevendo isso tudo. Talvez seja para agradecer ao Papai-do-céu. Obrigada, porque você é de verdade.

domingo, 21 de agosto de 2011

O amor é ridículo




Tá tudo errado. Não era pra ser assim. Não era pra eu te amar desse jeito desproporcional. Eu devia ter um amor do tamanho do meu corpo, e não do tamanho da minha alma.

Não era pra eu ter um amor doído. Acreditei que amor era bom e que fazia as pessoas felizes. Descobri com você que amar é maravilhoso – ou é um inferno. Dizem no senso-comum, ou oito ou oitenta.

Meu amor por você me faz chorar e me esmigalha a alma. Faz faltar o ar dentro do meu corpo, e só poder ser apaziguada por você mesmo, ainda que eu te odeie por alguns instantes.

Que coisa mais ridícula! Você me machuca e só você consegue me consolar. Você se recusa a me consolar, e me machuca ainda mais.

Que coisa mais ridícula! Entrego nas suas mãos a parte mais frágil que tenho de mim mesma, e deixo você pintar e bordar com ela. Você estraçalha a minha parte delicada e preciosa, pisa em cima e ainda cospe. Mas não, meu amor, sei que você não faz de propósito. Não, você não tem a menor idéia de que tem nas mãos esse pedaço tão importante de mim.

E aí tem momentos que eu só sei doer. Só sei transformar alma em lágrima, só sei condensar a minha existência, e condenar os meus sentimentos.

Meu amor por você é meio masoquista. E isso não é baixa auto-estima. Fosse esse o problema, seria muito mais fácil de resolver.

Não sei se o problema é a forma ou se é o tamanho do meu amor. Mas também, no fim das contas, se não fosse um problema...ainda seria amor?


quinta-feira, 18 de agosto de 2011

O amor não é bonitinho.


O friozinho na barriga. A dúvida gostosa. A tentativa de ler olhares. O descompasso cardíaco. O sorriso como reflexo. É, o amor pode ser lindo.
Mas acontece que o amor é bicho traiçoeiro. Quando você se apaixona pelo amante, quando você está ali, pingando libido, apaixonada pelo amor... Ah, ele puxa o seu tapete. O amante? Não, o amor.
Esse sentimento que pode ser tão bonito, pode também virar o seu mundo de ponta cabeça. E vira mesmo.
De repente, como num susto, me pego te odiando. Querendo te matar. Ah, deve ser a TPM! Dirão os acomodados. Queridos, se todo o problema do amor fosse resumido a hormônios, eu daria risada dele. Ao menos do amor feminino.
Mas o meu amor é sacana. Veja só, bebê, não estou dizendo que você é sacana, mas que o meu amor o é. Chamarei você de amante, tá?
Como eu ia dizendo, o meu amor é sacana. Basta um titubeio seu, e num piscar de olhos, eu, tão equilibrada e paciente, me transformo numa louca. É, numa doida varrida. Assim mesmo, sem eufemismos. Nada de te culpabilizar, nada de tentar deixar a coisa bonitinha. Tomemos o amor assim como ele é: escrachado.
E o meu amor ri da minha cara. Diverte-se com a minha instabilidade. Gargalha da forma mais barulhenta, enquanto assiste ao meu desespero diante das minhas dúvidas.
Tenho uma tendência a achar que não sou amada. Vivo desconfiando do teu amor por mim. Se você pisca diferente, se diz uma palavra a mais ou a menos, já acho que é porque não me ama. Meu coração tem Alzheimer, preciso saber que você me ama todos os dias.
Já você, é cainha com palavras. Ô, homem desgraçadinho! Mania de dizer em meia dúzia de palavras o que eu levo 55 páginas pra entender. Mania de achar que eu devo deduzir o que você não disse. E nessa, eu vou entendendo as coisas do meu jeito. Daquele jeito que tende para uma esclerose, que tende pra uma rejeição, que tende pra um abandono, que tende para o lugar que pra mim é conhecido.
E olha que eu acho que sou muito amada nessa vida...(acho, né). Só que tem coisas que eu sei, racionalmente, mas que o meu corpo não sabe. E o meu corpo não sabe que você me ama, a não ser quando você diz isso pra ele.
Declarações de amor, manifestações de afeto, não têm prazo de validade. “Válido por três meses”. Nananina. Acabou a declaração, acabou o amor.
Céus, eu sou muito chata. Sei disso. Mas saber não basta. Então sinto muito... faço o que posso. Mas se queres o meu amor, agüenta, bebê. Força. O meu amor é gordo e pesado e eu espero que você tenha músculos o suficiente para sustentá-lo.


domingo, 14 de agosto de 2011

No-body



Escrevo. Apago. Escrevo. Apago. Escrevo. Apago.
Estou escrevendo muito mal ou é o botão delete que está irresistível hoje?
Nem um, nem outro.
Minha alma grita, e assustado, o meu corpo se cala. E extasiado, se nega a aceitar o movimento dos meus dedos sobre o teclado.
É que eu ouvi Zeca Baleiro.
Ou eu fui pôr o Zeca pra cantar pra tentar quebrar essa dança frustrada entre corpo e alma?
Não sei. E acho que isso nem importa.
O que importa é que escrever é extravasar pedaços de alma.
E às vezes meu corpo está tão encantado com os pedaços de alma, que se recusa a extravasar. Fica ali, todo cheio, exibindo-se para si mesmo. E a alma fica ali, encantada pelo encanto que produz no corpo...
Oras, do que é que estou falando?
O corpo, a alma. Que casal bonito! Mais parece eu e você.
Pois veja só, bebê. Não importa do que eu fale, acabo falando de você.
Pois veja só, alma. Não importa do que eu fale, acabo falando de você.
Então falem comigo...
Não me deixem aqui, só, diante do meu corpo que, vez em quando, decide se calar.

sábado, 6 de agosto de 2011

É prosa, é poesia, é sem imagem

Cheguei ao meu limite.
Estou exausta de tanto te amar.
Eu te amo? Faço-me rir.
Foi-se o tempo em que dizer que te amo, tinha como função me aliviar.

É, porque declarar o meu amor por ti me alivia, sim. É como se eu fosse um balão, que fosse se enchendo de tanto amor. E as palavras, então, fossem um delicado buraquinho que se faz nesse balão, que sem permitir que eu (ops, ele) estoure, deixando um cadinho do amor vazar. E é aí eu respiro. "Escrevo pra respirar", disse a Lispector. Eu digo do amor pra respirar.
E eis que “eu te amo” nem cócegas mais me faz. Talvez eu exploda.
Preciso dizer uma palavra que não sei qual é. Sinto cócegas na língua e também o gosto dessa palavrinha. (Ou será uma palavrona?) Me arrepia quando penso nela, me dá um pouco de doideira, e aí me dou conta do quão cheia estou.

Dizia a minha mãe, quando eu era bem menor do que ainda sou, que era feio dizer “estou cheia”.
–É satisfeita, menina!

Satisfação? Ha-ha-ha. Quem me dera um amor tranqüilo, que me satisfaça e me deixe bem.

Eu não sei amar assim.
Só sei sugar a sua alma.
Só sei não caber em mim.

"Eu te amo não diz tudo", disse a Martha Medeiros. Pois eu acho que eu te amo não diz é nada.
 Porque amar é dizer sem palavras.

Ou endoidei de vez?