Páginas

quarta-feira, 23 de março de 2011

Viúva




Sou uma jovem viúva. Quando pequenina, casei-me. Dizem que hoje em dia isso já não acontece mais; não sei, mas na minha infância isso acontecia o tempo todo. Pois foi aí que casei muito jovem com um moço. O tal moço parecia extremamente saudável, tinha olhos que fingiam brilhar, quando na verdade, me hipnotizavam.

Daí que esse moço me enganou. Parecia saudável, mas rapidamente descobrimos-o gravemente doente. Após um período longo de convalescença, tratamentos paliativos, doença em estado terminal, aparelhos respiratórios, tudo pra prolongar uma vida enferma que não acabava...eu decidi assassiná-lo. Sim, sou uma viúva-homicida, eu confesso.

Mas como nada na vida é simples assim, o que acontece é que o falecido adora ressucitar. E eu, descobri que tenho um lado perverso, que adora matá-lo. E então eu vivo disso: de assassinar o falecido.

É delicioso acabar com ele. Sinto-me inteligente, revigorada, decidida, auto-suficiente. E ganhei de presente do mundo, uma doce ignorância que me permite esquecer algumas coisas, só pra ter o prazer de descobri-las de novo.

É aí que sempre me surpreendo, diante do moço tomando a vida para si de novo. Renasce, aparentemente revigorado, de olhos igualmente hipnotizantes, ataques de riso sedutores. Mas logo cai enfermo novamente. E eu torno a matá-lo. Mato-o todos os dias, mas ele ressucita como ninguém. Pois se eu o mato, é para que ele possa nascer novamente. Porque o meu falecido chama-se amor romântico. Jovem-viúva-homicida. Eis o que eu sou.





27 comentários:

Aline disse...

No começo não estava entendo, mas achei o desfecho bem inteligente!

um beijão

Luz disse...

Qta insistência!
que o diga o meu tb...

Carina Destempero disse...

Logo que você falou que o falecido adorava ressucitar pensei: amor.
rsrs

Sempre me identifico com o que vc escreve, acho q por isso volta e meia escrevemos coisas que lembram uma à outra. :)

Adorei, mesmo, Alicia!

Vanessa Souza disse...

Penso que algumas mortes são necessárias.

Mente Hiperativa disse...

GENIAL po!!! Gostei demais!!!

Anônimo disse...

ah! não mate, d~e a ele um pouco amis de realidade, não o deixe arrasta-la para a enfermidade com ele, arraste você ele consigo para onde brilha lucidez, nunca passei com ele pelso campos dacegueira.

Se bem que este seu matar, esta viuvez desejada e a ressureição tbm desejada é quase isto

Tão bom ler coisa inteligente, uma idéia é só uma idéia, o que a torna espetacular é a maneira como é contada

Bjs

Anônimo disse...

Desculpe Alicia, repetindo, agora com mais juízo nas letras:

ah! não o mate, dê a ele um pouco mais de realidade, não o deixe arrasta-la para a enfermidade, arraste você ele consigo para onde brilha a lucidez, nunca passeie com ele pelos campos da cegueira.

Se bem que este matar, esta viuvez desejada e a ressureição também desejada é quase isto

Tão bom ler coisa inteligente, uma idéia é só uma idéia, o que a torna espetacular é a maneira como é contada

Bjs

Anônimo disse...

Desculpe Alicia, repetindo, agora com mais juízo nas letras:

ah! não o mate, dê a ele um pouco mais de realidade, não o deixe arrasta-la para a enfermidade, arraste você ele consigo para onde brilha a lucidez, nunca passeie com ele pelos campos da cegueira.

Se bem que este matar, esta viuvez desejada e a ressureição também desejada é quase isto

Tão bom ler coisa inteligente, uma idéia é só uma idéia, o que a torna espetacular é a maneira como é contada

Bjs

Simone Oliveira disse...

Qu etexto lindo, Alicia! Parabéns, tava pensando várias coisas qd tava lendo e o desfecho me surpreendeu!

Beijos, estou te seguindo!

Ani Braga disse...

Olá querida Alícia

Maravilhoso seu texto.
Como todos que eu leio aqui...

E se a gente mata o amor é mesmo pra que ele renasça sempre e cada vez melhor e mais intenso...

Beijos

Ani

Julliany kotona disse...

Eu tento matar esse amor que sinto todos os dias em meu peito me identifiquei muito com suas palavras amei amiga.bjos de bom dia.

Anônimo disse...

Uma viúva negra? Que tal ein?

todos nós somos viúvos de algo, mas dá pra recomeçar sim!

eu simplesmente adoro o que tu escreve guria.

até mais!

Anônimo disse...

Estaria a Alicia brincando de "fort-da" com o amor?

Alicia disse...

Hahaha

Ótimo, Arthur.

Em cheio.

Marília Felix disse...

Que ELE ressuscite várias e várias vezes!

Adorei, Alicia!

=)

Beijos e obrigada pela visita de sempre em meu espaço!

Nanda disse...

Você escreve lindamente... a gente se envolve, se embriaga... e no final, se surpreende!

Beijo!

Anônimo disse...

Que visão baudelairiana de amor! Quanta morbidez. Adoro suas palavras. Adoro. Adoro tanto que vou matá-las, todas, pra que elas continuem nascendo, em cada post.

Luna Sanchez disse...

Praticamente um pacto de boa convivência. Gostei.

=**

Lívia Azzi disse...

Li o texto 3 vezes por puro prazer!

Se estivesse escrito em um livro eu grifaria com meus marcadores neon removíveis (para não riscar as páginas): "Mato-o todos os dias, mas ele ressuscita como ninguém. Pois se eu o mato, é para que ele possa nascer novamente".

Amor-te como a Ana Suy me ensinou!!

Texto incrível, Alicia!

Maria Marluce disse...

Muito inteligente e interessante."mato-o todos os dias e ele .... "Parece que somos sempre essa viúva.

Leo disse...

Uauuu, texto maravilhoso, Li e reli.

Ví úvas..

Beijoo.

Karola disse...

quanta intensidade
deixando uma flor
e desejos de lindos dias

visitei seu cantinho ;)

Priscila Lopes disse...

adorei; sou eu também uma assassina perversa.

só penso que, talvez, deixar "oculto" quem, para você, é o falecido seria mais interessante - cada leitor tem a sua leitura.

como disse João Cabral:

"a obrigação do poeta é expressar a subjetividade mas não diretamente. Ele não tem que dizer “eu estou triste”. Ele tem é que encontrar uma imagem que dê idéia de tristeza ou do estado de espírito - seja ele qual for - por meio de palavras concretas e não simplesmente se confessando na base do “eu estou triste”".

abraço

Anônimo disse...

O interessante é que ela só consegue amá-lo quando ele renasce, fiquei pensando se tem algo relacionado com a personalidade dele e ele usa de alguns recursos para ele voltar a ser o que era antes mesmo que brevemente.
Acertei?

Beijos

Bia disse...

muito, mas muito bom mesmo!na verdade: excelente!!

Beijocas!!

Bia

Bruna Zumbia disse...

Meu deus que texto cool *--*
adoro histórias assim.

beijos

Gabriella Beth Invitti disse...

Brilhante!
Você tem o dom.

Grande beijo!