Minha cabeça dói. Tomo tantos comprimidos quanto uma criança come confetis.
Não sei pra que tanta dor. (Se soubesse provavelmente não a sentiria.)
O fato é que a minha dor está dizendo de mim. Dizendo sem palavras. Dizer sem palavras é uma coisa mesmo doída.
Queria eu emprestar palavras pra minha dor de cabeça. Pra ela me falar de um jeito inteligível e indolor.
Céus! Pra que tanta dor assim? Porque não caibo em mim. Porque a minha alma tenta fugir do meu corpo, que não deixa. Ele a amarra aqui, com esta dor. Então é isso: dor de cabeça é a alma tentando fugir do corpo. Dor de cabeça é a coleira com a qual o corpo, egoísta, segura a alma consigo.
Ah, como eu queria fugir daqui! Como eu queria férias de mim. Como eu queria dar uma escapadinha do meu corpo. Eu voltava, depois. Sou boa moça, tenho palavra. Mas agora palavra é o que me falta. Eu só queria respirar em outro corpo. Eu só queria dançar com outros braços, andar com outras pernas. Amar com outro coração, pensar com outras palavras.
Porque palavras, assim como o corpo, me prendem e me libertam. Palavras me acorrentam, sim. Porque só posso dizer as palavras que já existem, para me comunicar com o outro e comigo. Porque o que quero dizer, nunca é bem o que eu digo, e por isso preciso falar e escrever tanto.
Palavras me libertam, sim. Porque quando eu as domino, a cabeça não lateja. Porque se escrevo e falo, é pra tentar me libertar uma existência indefinida. Porque é o único instrumento que tenho.
O corpo me liberta porque me permite ir, vir e sentir. Porque me dá células para existir. Me dá cérebro para refletir.
Mas também, o corpo me prende. Dormindo, acordada. Sonhando, na realidade. Tenho que me virar com o mesmo corpo durante toda uma vida. Não posso ir e deixá-lo, ou ficar e levá-lo. Tenho que passar todo o tempo da minha vida tentando encaixar minha alma no meu corpo. As vezes consigo, e sou feliz. As vezes isso me exige tanto esforço, que a enxaqueca aparece. Nem corpo, nem alma me obedecem. A enxaqueca me toma. Eu tomo o comprimido. Minha existência me comprime. Me entristece, não me deprime.
12 comentários:
Dizer sem palavras dói. Concordo. Mas existem pessoas que tem o dom de escrever e flagelar nossa alma. Escrevem de uma maneira tão verdadeira, doída, cruel. Que acabam por enterrar o outro apenas com palavras.
Infelizmente sou um desses. Assumo.
"O que se quer dizer está sempre lá fora, além das palavras"
(Luiz Fernando Veríssimo)
Quando o corpo e a alma se (des)encontram escrevemos o indizível...
;-)
Onde está eu?
Preciso fazer um retiro espiritual e encontrar-me enfim -
enfim, mas que medo - de mim mesma.
[Clarice Lispector]
;)
bela semana
Embate de linguagem e corpo?
Atualmente meu corpo, meu peito tem dito de uma angústia que n sei nomear.
É uma dor, aLgo que dói em tal intensidade, com constância e profundamente .
Por que dói, não sei???
Sinto apenas a dor, talvez por que seja mais fácil para o corpo transformar em dor a angústia que não sabe ou não quer expressar.
Grades e asas.
Queria um comprimidinho desses tambem..
Nossa , eu sou daquelas que utilizam pouco as palavras em situações perigosas. Pois tenho medo de me magoar mediante a elas, e magoar pessoas à minha volta.
As palavras podem mudar o clico de uma vida inteira.
Você é uma querida sabia?
adoro o que tu escreves! de verdade, não é clichê.
beijos flor, ótima semana <3
Sabe?
Hoje eu to assim, meu coração quer sair pela boca.
Bom ler-te.
Um beijo
ehhh, dá vontade de fugir, mas não pode.
tem que ficar e enfrentar!
=/
bjsmeus
E as suas palavras gritam, para alcançar a tudo.
Beijos
Quando a alma é muito grande o corpo, invólucro pequeno, torna-se apertado, surgem as dores, comprimir-se não é tão confortável.
Beijos Alicia, desejo dias de expanssão para vc
Uau, Alicia... esse texto foi de uma dor e uma beleza indizíveis. Eu também tenho, às vezes, sérios problemas para encaixar a alma no corpo, mas em mim esse esforço resulta em tonturas e uma fadiga extrema.
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