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sábado, 30 de julho de 2011

Palavra é morte.



Tenho um vício, e nem sei qual é. Talvez seja de vida. Talvez seja de morte. Qual é a diferença? Às vezes finjo que sei. Mas é pura mentira. Não sei delimitar onde acaba um e começa o outro. E se forem sinônimos?  Eu só sei que tenho sono em vida. Sono é uma predisposição à morte. E eu sou isso mesmo. Sou muito estúpida. Eu não sei o que é que sou. Todas as minhas palavras – ditas e escritas – são pura elocubrações. Eu não faço idéia do que sou, pra que sirvo ou pra que a vida me é útil. Mas estou aqui e enquanto isso, saboreio palavras. Porque é isso o que faço com mais prazer. Degustar pedaços de morte. Ah! E você acha que palavra é vida? Muito engraçada você, dona Alicia. Coisa que nasce tem fim anunciado e por isso é um pouco morta. Tenho uma palavra infinita no bolso? Sei dizer algo eterno? Sei não. Toda palavra me parece curta e insuficiente. Tudo o que digo é fadado ao fracasso. MORTE. Palavra é morte. Palavra é morta. Ó, superego, não me olhe com essa cara de decepção pura e amarga. Eu sou um pedaço de morte perambulando pelo universo, sim. E tu também és. E isso pode ser bonito, ao mesmo tempo em que é assustador. Porque todas as coisas vivas são ambivalentes. Até as palavras. Que são meio zumbis, meio-mortas-vivas. Se alimentam de vidas, exatamente como os zumbis! Porque a palavra mata parte daquela coisa que você queria dizer. Nunca digo aquilo que quero, mas consigo em partes dizer um pedaço daquilo que eu queria. O suficiente pra ser minimamente compreendida. Tá, eu sou um tanto louca, esse texto mais ainda, e isso não faz sentido. Bem-vindo à vida, baby.

23 comentários:

Sandro Ataliba disse...

Sua palavra passa a ser eterna quando você a coloca no mundo. E, se sua palavra é eterna, você também o é. Não neste tipo de vida que você pensa ter o controle, mas do tipo que você sempre existirá, em algum canto, para ser lida e lembrada.
Ou pelo menos é com isso que eu gosto de me enganar.

Allyne Evellyn disse...

Perfeita reflexão sobre o poder das palvras....

Vanessa Vieira disse...

Vivemos para morrer!! Ainda bem que temos as palavras para nos fazer companhia! Gostei de sua reflexão. Foi um verdadeiro "pensar fora da caixa." Parabéns!

Luini Nerva disse...

E o que faz sentido?

Unknown disse...

OWN...de tanto se fala na morte que esquece da vida, mesmo que somos "um pedaço de morte perambulando pelo universo" igualmente somos um taco de vida perdida pelo infinito ENFIM..depois piora, e a morte? acredite ela me fascina e não sabe o quanto!

XEROO LINDA

http://cywmara.blogspot.com

Verônica disse...

E, por fim, nada é certo. Nem mesmo a morte, eu diria.

Thaís Alves disse...

E se tudo que nasce, morre um dia, qual o problema em apenas viver, escrever e sentir? Não há susto ou novidade nisso. Beijos! :)

Depois dos 25... disse...

"Nunca digo aquilo que quero, mas consigo em partes dizer um pedaço daquilo que eu queria."

Adorei esse trecho! Explicou exatamente o que sinto várias vezes. Aliás, muitas vezes.

Beijos

Marcelo Henrique Marques de Souza disse...

Ok, somos estúpidos.. mas apenas enquanto não questionamos a sedução de morte que desce pelas correntezas de sangue de todas as palavras, mesmo as mais presunçosas (ou denotativas, o que dá no mesmo). Por isso, sou obrigado a discordar: esse texto é tudo, menos da ordem do estúpido (tá legal, eu sabia de saída que era ironia sua..;))

Priscila Lopes disse...

ai como eu (a) adoro.

Talita Prates disse...

Então somos - loucas.
Pois o teu texto fez TODO O SENTIDO (morto?) pra mim.
Pqp. Obrigada por ele.
Estou boquiaberta.

Beijo. Putz.

Talita
História da minha alma

Carina Destempero disse...

Palavra é morte porque nunca consegue traduzir fielmente o que supostamente diz, e para a morte não há representação possível.
Impossibilidade de representar é morte, e ao mesmo tempo não há outra saída senão tentar.

Amei, amei, amei.

Um beijo!

Bruno de Andrade Rodrigues disse...

A mim, o texto é uma explosão de sentido! Somos todos grávidos da morte e não podemos abortá-la. E é verdade que o sentido nos escapa e que os silêncios vazam pelas palavras e dizem mais. Também é verdade que a linguagem cerceia nossas emoções, limita a potencialidade semântica, e domestica o sentido e a alma. E ainda assim a palvra serve à expressão da energia de vida.

Parabéns!

Ayanne Sobral disse...

Mas você sabe que não é louca, ao menos, não-toda.

Palavra é morte. Sim, nós somos pedaços de mortes. Tudo que nasce, nasce para morrer. E a vida, e o que se diz, é bonito justamente por assim ser.

Tuas palavras mortas, Alicia, ressuscitam um monte de coisas por aqui. E matam também. É, teus textos provocam um efeito louco em mim, no meu ritmo cardíaco, nas minhas mãos que ficam geladas porque sinto cada letra, porque tomo como propriedade tais sentimentos, pra mim. E gosto, e quero mais.

Quero saborear mais essas palavras tuas que, vivas ou mortas, são uma delícia.

Beijos.

Ayanne Sobral disse...

Saudade, viu.

(:

Bruniele Souza disse...

Texto bastante forte! A vida é mesmo louca, ela não segue razões, talvez a razão da vida seja a morte ou vice-versa. Ou talvez o jeito estar em vida seja degustar pedaços de morte, palavras que trazem morte, mas ressuscitam em vida!
:D
grande abraço

Anônimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

A palavra falada já está morta, né. Nós a derramamos no caos. Ela nasce pela língua e depois morre, vira passado. Nós nascemos e depois somos jogados a isso também, isso que chamamos de "vida" mas que acaba em morte.

Anônimo disse...

A morte é o descanso da vida ainda que você não tenha se cansado dela.

Gabriella Beth Invitti disse...

Escritores vivem escrevendo para chegar à uma conclusão de "porque escrevem". E nada faz muito sentindo. Escrevemos pela alma, para exteriorizar sentimentos, para salvar vidas. Que seja! Apenas escrevemos.

Adorei o texto.
Você é maravilhosa!

Lívia Azzi disse...

Duas pulsões básicas: Eros, ou pulsão de vida, e pulsão de destruição. Amor e morte, desejo e ódio. Deliro com essas coisas e com a vertigem provocada pelas palavras - divinamente escolhidas, Alicia.

Anônimo disse...

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