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sexta-feira, 24 de junho de 2011

A realidade tem gosto de café frio



Deixe-me sair
Não, você não pode
Pois eu devo ficar
A vida me enlouquece
Quanto mais sentidos eu procuro
Mais encontro chances deles existirem

E isso é desastroso
Porque é bem mais bonito se conformar com a falta de sentido
Porque é bem mais legal acreditar que a vida é bela e que o amor salva
Bando de mentiras...
A vida é feia
Acreditamos em promessas de felicidade e de honestidade
Só ganhamos realidade
Mesmo os sonhos que se realizam
Se tornam cinzas
A realidade tem gosto de café frio
E o sonho realizado também
Veja, o objetivo da minha vida
É deixar tudo com gosto de café frio
E de algum modo encontrar beleza nisso
O tempo não pára pra eu pensar
E eu não paro pra viver
Acontece tudo junto, todas as coisas se mesclam
Onde é que acaba a vida e começa a morte?
Onde é que acaba o eu e começa você?
Onde é que acaba o meu corpo e começa a minh'alma?
Onde é que acaba o sonho e a realidade inicia?
Onde é que acaba a minha visão?

O horizonte não é uma linha, bonita como os desenhos nos quadros mostram
O horizonte é um corte. Um rasgo no meu alcance.
Uma impossibilidade.
De ver um pouco mais.
Assim como é a morte. Uma impossibilidade de ver um pouco mais.
Assim como é o amor. Uma impossibilidade de ver um pouco mais.
Assim como é o sol.
Assim como são as palavras. 
Porque tudo o que existe faz limite. O mundo só sabe me podar.

16 comentários:

Carina Destempero disse...

O corte rasga e dói mas também abre. E a chance que temos é transformar a barreira em fronteira - delimita mas permite deslocamento.

Belo texto, me fez - e está fazendo - refletir sobre várias frases. Adoro textos assim.
:)

Ayanne Sobral disse...

Um poema cafeinado, daqueles que acordam. Bonito, como só você faz ser.

Um poema-prosa delícia de ler, cada frase me levou tão longe.

Seria capaz de ler mil vezes. Em cada uma delas seria uma leitura diferente. E meu coração bateria em compassos diferentes. Mas o olhar que parece ler e escrever a minha história, esse seria sempre da mesma doçura.

A realidade tem gosto de café frio, mesmo. Mas isso que você faz tem gosto de capuchino, dos melhores, e é uma delícia. Dessas misturas que a gente deseja, sonha e quase incorpora.

Muito, muito lindo.
Muito, muito fã.

Camila Lourenço disse...

É Alice...hj vc escreveu por mim...

bj

simone disse...

uma bukowski!

Cláudia M. disse...

Hoje estás inspirada Alice!

Lilian disse...

Odeio café amargo.

Anônimo disse...

Talvez caminhar não passe mesmo desse gosto de café frio pelos lábios...
Talvez a vida e tudo que dela se anseia, não seja nada além desse café frio...
o pior é que buscamos o contrário sempre. Será que existe?

Bjs

vanessa carvalho disse...

Gosto da maneira de como você escreve. Magnífico texto.

Mila Ferreira disse...

Bem... tirei uma lição: devemos aprender a se não gostar de café frio, aguentar tomar...


Bjs.

Marcelo Henrique Marques de Souza disse...

E quem disse que os olhos são boas testemunhas?.. Para além do bem e do mal não existe café frio ou quente.. mas ele desce sem arranhar a alma...

Danelize Gomes disse...

Cafeína pura. Nunca temos certezas,sempre temos duvidas. E tudo o que queremos de uma hora para outra vira pó,cinzas.
É, fazer o que, temos que beber desse café frio,para viver.

Adorei teu texto (:

Lívia Azzi disse...

A fantasia é o café quente da vida!

;-)

Sandro Ataliba disse...

É exatamente isso. A própria vida nos limita. Tudo a nossa volta nos limita. A liberdade é uma utopia.

Nara Sales disse...

Quando fecho os olhos, apenas o que está dentro não tem limite.

Karola disse...

meu café esfriou enquanto lia
duras realidades me acometem

Unknown disse...

O infinito não cabe na nossa compreensão.