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domingo, 26 de junho de 2011

Meu príncipe-bandido




Sabe como é, né. Eu sou mulher, menina, sabe-se lá o que....mas é fato que sou do sexo feminino. E assim, consequentemente, tenho como o sonho da minha vida – mesmo que seja numa parte minha que tento ignorar – encontrar o meu príncipe encantado. É, não exatamente alguém que venha num cavalo branco, todo impecável. Mas alguém que faça de tudo pela minha felicidade, que me ame - no mínimo - o dobro que eu amo, que arrisque a vida por mim, que me entenda, que acabe com as minhas ânsias e angústias.

Mas vou confessar...isso é uma puta mentira que as mulheres contam para si mesmas. Mulher nenhuma quer um príncipe encantado, eu muito menos. Mas um bandido, também seria dose. Gente desonesta é brochante. Gente que se acha, aterrorizante. Aquele que passa a perna em todo mundo, uma hora cai, e eu não quero cair junto. E nem posso gostar de alguém assim.

O bom mesmo é você. Pessoinha mais humana desse mundo. O príncipe mais bandido que pode haver.

Gosto de você porque você me vê. Me acha linda e me deixa saber disso. Mas gosto de você, também, porque as vezes eu lhe sou transparente. Passo, e você não percebe. Tento chamar a sua atenção e não tenho sucesso. Você me faz duvidar da minha existência e olhar de forma crítica pro meu próprio umbigo, ao invés de me perder no meu narcisismo.

Gosto de você porque você é ousado. Tem sonhos, e olha que absurdo – acredita que é possível torná-los realidade! Já eu, com meu "q" de pessimista (que eu chamo elegantemente de realismo, mas pouco tem de realeza), com minha tendência ao conformismo, mais vivo das minhas fantasias .(Puxa, os sonhos realizados perdem quase toda a sua beleza!)

Gosto de você porque você me deixa em dúvida. Ora parece querer passar toda a vida ao meu lado, ora parece que na próxima saída pra comprar cigarro, jamais voltará a me dar o ar da graça. E isso me deixa irritada e apaixonada.

Gosto de você porque não sei como te agradar. Não, não se trata apenas de sexo, como dizem dos homens, e como você mesmo brinca. O buraco é muito mais embaixo, num lugar que eu não conheço. Você exige de mim algo que eu não posso lhe dar, porque eu nem sei se existe. Mas é algo que eu quero lhe dar, ainda que isso não exista em mim – ainda. É, você me faz prometer absurdos, pra mim mesma.

Gosto de você porque você não lida comigo, mas com uma parte obscura de mim. O meu “eu” sabe muito bem o que fazer – tem sempre uma boa resposta na ponta da língua - sou bem afiada em discussões, quando quero. Mas não é com esse tal de “eu” que você lida. E eu sequer sei dar nome pra essa parte de mim que você faz doer.

Sim, você faz doer. Porque o amor é uma dor boa. Chamo de dor por não saber dar outro nome. É assim... Imagine que você não tem só dez dedos na mão, mas sessenta. Só que você só vê dez, só mexe dez. Pois é isso, eu te amo com os meus cinqüenta dedos que não vejo. É, eu te amo mesmo com os dedos. Com as pontas dos dedos. Num lugar onde o tato é coisa afiada. Num lugar onde eu sinto muito. Num lugar onde as impressões (bem além das digitais) moram. Num lugar onde as minhas marcas são únicas.

E eu gosto de você porque você me faz crescer. Me convoca a mudanças, chacoalha minha alma.

E gosto de você porque pelos teus olhos vejo pura inquietação. Da mais bonita. Vejo um ser que beira à loucura e é impedido de ceder a ela por sabe-se-lá-que-motivo. Gosto de você porque vejo uma coragem bonita, enfeitada com obsessões e medos.

Eu gosto de você por tantas coisas... Mas gosto, principalmente por outras tantas coisas que não sei.

24 comentários:

Ayanne Sobral disse...

Como você consegue me deixar sem palavras, Alicia. E me arrancar suspiros, sempre.

Primeiro preciso dizer que tô adorando vir aqui e ver teus posts sem muitos intervalos. Gosto assim, de me encher das tuas poesias.

Sobre o texto, suspiros. Palmas. De pé. É dos mais lindos que já li.

Você tem o dom, querida, de deixar meu dia mais leve com um texto. Eu poderia grifar cada parte que me fez sorrir com os olhos, mas são muitas, então prefiro dizer:
você deixa meus dias mais leves escrevendo qualquer coisa que pulsa, dentro de você.

Obrigada.

Thaís Alves disse...

Que declaração mais linda. Se for real, essa sim tem realeza. E se não for, que se concretize rápido. O amor que nos eleva é o único que vale a pena viver, arriscar, cair, levantar e se atirar em todas as mudanças! Um beijo!

Luini Nerva disse...

O homem ama, porque o amor é a essência da sua alma. Por isso não pode deixar de amar (Leon Tolstói) Estou ciente da presença dos meus leitores, mas carente de comentários. Então tuas palavras são sempre muito bem-vindas! Bjo e segue escrevendo com poucos intervalos! Boa semana! :D

BG disse...

É sempre bom falar de amor... mesmo quando se racionaliza um sentimento que pode tanto tranquilizar, como enraivecer! Parabéns pelo post.

Mila Ferreira disse...

Acho que um principe encantado seria destoante... seria monotono demais, prefiro acreditar que principes encantados existem, mas são tão cheios de defeitos como os súbitos... Em suma, é uma pessoa normal, que só se torna especial e um Principe pq amamos....

Bjs
Boa semana!

cafundó disse...

Este texto, Alícia, revela sua alma inquientante e irreverente. Sua sede de mudanças e suas desconfianças. É lindo e traz reflexões como quase tudo que vc escreve e eu sempre gosto de ler!

Luz disse...

Ai ai... quando leio coisas assim, fico com aquele risinho bobo no canto da boca- é pq parece que "roubaram" uma cena da minha vida

Como essa, me viram do avesso e me desviram de novo, e esse vai e vem eu não sei bem o que é, mas me entontece que chego a gostar dele.

Gosto de gente de carne e osso, elas me fazem acrediatar opsss acreditar que eu tb existo e por vezes não sei se existo.

e a minha ilusão é tão real...

Ingrid disse...

que gostoso Alicia..
ler uma declaração assim tão autêntica..
beijos perfumados

Mente Hiperativa disse...

Mulheres são mesmo inssaciáveis, ora querem príncipes, ora querem bandidos, que tal um camaleão?

Metade príncipe, metade bandido, bem batido, no liquidificador, com calda de chocolate e cereja pra decorar. Beba com canudinho.

Roberto B. disse...

puta escrito bom pra cacete!

e me desculpe, mas gosto de cada palavra sua postada aqui.

Lívia Azzi disse...

Suspiros para TODAS as suas palavras, não faltou nada!!

Lívia Azzi disse...

Quer dizer, faltou eu comentar isso: a dúvida é o combustível do amor!

A b e l disse...

Não sei se por gostar de café (texto anterior) ou por achar que a expectativa pauta o ato e enlaça o imaginário (vida bandida)... Mas, tem que ter motivo? Adorei o blog.

Abçs!
Quando der visite o meu: http://www.escritosbe.blogspot.com/

Anônimo disse...

Chegando agora,e conhecendo o blog...Parabéns!!

Tô gostando muito!Virei mais vezes!
Bjinhos

Andreia
@_audray_

Anônimo disse...

É, não exatamente alguém que venha num cavalo branco, meu príncipe gosta de cavalos pretos, gosta de musgas com cavalos pretos, tem o cabelo preto, de branco só a bandeira mesmo.

Adorei o texto. Quem ama o lê com os olhos brilhando, quem não ama inventa um amor até o final da leitura, certamente.

A parte que mais gostei (mentira, gostei de tudo na mesma medida) foi sobre as coisas que eu não sei. E eu também não sei expressar uma palavra à altura do texto, como elogio. Proust brigaria comigo, mas creio que você não, né?

PS. "Alício" saiu babando, aposto, hahahaha.

Anônimo disse...

Ps2. Amor é dar o que não se tem, né.

Anônimo disse...

vc definiu perfeitamente Alicia o tipo de homem que uma mulher quer.. pelo menos eu. já tive esse tal principe encantado como vc definiu no inicio do post, e já me senti muito culpada por não querer..muitos diziam: o q mais essa pessoa (eu) poderia querer da vida? o problema é q muita gente não se dá conta q principes encantados assim vêm sempre carregados de inseguranças e insegurança gera cobranças e cobranças destroem relações, até pq sentimento é algo que não se pode prometer. Bjusss mais que amei..

Carina Destempero disse...

teu texto quase todo fiquei pensando em Lacan: "Amar é dar o que não se tem a quem não é."
Enigmático? Pode ser. Mas não é assim o amor?

Belíssimo texto!
:)

Vilmar Barros de Oliveira disse...

Alícia,
Vou te dizer uma coisa, não demora, seu príncipe encantado vai estar na fila pra pegar um autógrafo no lançamento do seu livro.
Porque você escreve bem pra caramba!
Adoro ler vc.
Beijo grande.

Bruniele Souza disse...

Nossa, que profundo!
Gostei da sua sinceridade em declarar este seu amor... O amor é um sentimento realmente confuso, já dizia Camões "é uma dor que dói e não se sente, é um contentamento descontente", é uma mistura de sentimentos dos quais a gente não consegue explicar...A gente ama sem razão e ao mesmo tempo tão munido por ela... A gente ama por ser só emoção ou por estar muito além desta!
:D
parabéns!

Dalila Meneses* disse...

Texto shooooooow!! Continue nos encantando assim!!! =*

Anônimo disse...

É dificil entender o amor feminino. Essa coisa que voce diz, mas tambem não diz, nao consegue...
O amor masculino (pelo menos o meu) é mais cru, direto e até mesmo sem cor ou cinza. Vai ver por isso seja angustiante tentar entender esse seu amor colorido, vermelho paixao que sangra e necessita até de fantasmas pra ser reconhecido.
Mas é bonito. Sem duvida. É instigante e me faz querer saber mais pra quem sabe um dia chegar mais perto do seu amor.
Meu amor é mais ou menos explicado por Neruda:
Te amo sem saber como, nem quando, nem onde,
te amo directamente sem problemas nem orgulho:
assim te amo porque não sei amar de outra maneira.

beijos

A.S. disse...

O meu beijO... e saudades Alicia!!!

AL

Danelize Gomes disse...

aaaaaaaaah,
e eu Alicia, gosto de você, porque toda vez que leio seus textos meus olhos brilham em meio a minha escuridão *-*