Escrever tem sérias conseqüências. Pra quem me lê pode parecer que apenas junto uma palavra com a outra, de uma forma mais ou menos harmônica, falando de alguma coisa que eu não sei bem o que é. (Pois se eu soubesse, escrever seria desnecessário, e vocês que me lêem, já sabem disso). Mas o fato é que escrever é uma coisa muito séria. Porque o faço com o meu sangue. Escrever nem sempre é terapêutico. Aquilo que se faz para aliviar, para tornar a vida mais leve ou coisa assim. Às vezes, escrever é cutucar a ferida com um objeto pontiagudo e sujo. Tem vezes em que escrever é causa uma certa inflamação – em algum lugar obscuro de mim. Pago cada letra escrita com o meu corpo. Palavra por palavra machucam o meu ser. Escrever é achar coisas em mim que eu nem sabia que existiam. É ter que digerir essas coisas depois. É ter que fazê-lo com cada partezinha da minha existência. É descobrir que a alma dói. É descobrir que o corpo responde mal às dores da alma. É pôr um ponto de interrogação na minha existência. É ter que fazer alguma coisa com essa interrogação. É entrar em crise por uma impossibilidade de dar um verdadeiro sentido às coisas que escrevo – e às coisas que vivo. É quase morrer de dor ao se deparar com o não-sentido da vida. É ter que tapear isso de alguma forma. É conseguir enxergar coisas bonitas num ponto de interrogação. É pôr o ponto de interrogação frente a um espelho e descobrir que ele vira um coração. É achar isso brega, e lindo ao mesmo tempo. É sentir imensa angústia em não saber pra que serve a vida, e maior angústia ainda em não saber quem sou eu. Escrever é, de vem em quando, querer só uma coisa da vida: não pensar. Porque escrever é questionar a existência. É se dispor a duvidar das coisas da vida. É se dispor a construir alguma coisa verdadeiramente minha. Nem que seja uma coisa bem brega.
21 comentários:
Escrever é inventar uma história verdadeira.
A história que você inventou aqui é das mais verdadeiras possíveis. E, por isso, tão genial.
Escrever é um grande dom. Falei um pouco sobre isso em meu último post. Passa lá dps.
http://deletrasasentimentos.blogspot.com/
Nossa! Que fantástico!
Mas é em cada descoberta que você faz se si mesma que surgem esses textos maavilhosos!
:D adorei
Escrever é ouvir os gritos, de nosso silêncio, e concretizá-los no papel.
Muito bom!!bju...
http://mmedeiross.blogspot.com/
Oi Alicia, maravilhoso post.
Os escritores entregam suas Almas, assim como todo artista. Bjs Cynthia
http://astroterapiajunguiana.blogspot.com/
palavras e descobertas..
sempre!
beijos Alícia.
Escrever é um ato de coragem, pois muitas vezes é através das palavras escritas que temos coragem de 'dizer' o que jaz em nossos pensamentos.
bjs.
"É pôr um ponto de interrogação na minha existência". Essa é a essência desse belo texto! É preciso acreditar sem deixar de duvidar e de perguntar. :)
Eu tô aqui com os pulsos latejando de dor depois de te ler. E te ler é tão bom. Dolorido e bom.
Você escreve com muita alma, é um talento tão incrível que eu fico pasma. É incrível a força poética que tua prosa tem. Tu não tem noção.
Obrigada. Obrigada por escrever.
Mil vezes obrigada.
Sou tu fã, você sabe.
(:
É Alice, escrever é mesmo cutucar ferida com alguma coisa pontiaguda...e, as vezes, na maioria das vezes, é mais fácil escrever do que fazer o que escrevemos, e acho que isso é pior, saber e escrever o que se deve fazer e não dar conta de fazer...
Escrever é sangrar assim como Nina sangrava ao dançar...
Ainda não cheguei nessa fase, só sei brincar e me divertir com as palavras, deve ser por isso que o Adrian disse que Isadora precisava de coragem para escrever, porque não sangrava e faltava-lhe coragem, mas no final ela sangrou muito...
Palavras- infl...AMA...ção
Que lindo isso!
Inflama
infla-ama
ama...
chama que arde... Amor é fogo que arde
Bem brega poderia ser visto por quem passa os olhos nas letras, mas não lê...
Aqui a "fratura" é exposta!
Ás vezes quando escrevo, sinto uma dor que não consigo dar forma, é como se o buraco do peito ficasse maior ainda... Talvez, ao recorrer tanto a este recurso, esqueça por vezes que nem tudo conseguirei dar sentido...
e isso dói (rss)
Abç, Alícia.
Alicia, escrever é "cortar fundo o peito, tão fundo, que no abrir encosta-se na alma, o ato, como navalha afiada faz da palavra autópsia, expondo muito mais que as vísceras, expõe a face nua, a carne recém aberta, feridas lembranças, e todas as alegrias, escrever é purgar culpas, desenhar medos, omitir desejos, revelar segredos, escrever é ser, simplesmente ser, sem dó ou piedade, ser, na pura acepção da palavra, questão semântica e romântica, sintaxe existencial". eu
p.s - dor compartilhada. bjs
Engraçado como são as coisas. Para vivenciar exatamente tudo isso que você [d]escreveu, estou numa fase em que preciso me afastar um pouco da escrita pessoal. Por isso o blog musical: para tirar o foco de mim e vivenciar essas experiências por outras vias que, no momento, me são mais necessárias.
Não é inveja (ruim) não, mas eu adoraria ter escrito isso.
E viva a breguice autêntica.
ADOREI!
Talita
História da minha alma
PS: e não achei NADA BREGA.
Ei, e não é que é exatamente isso? Na maior parte das vezes é bom botar as coisas no papel (ou no teclado), serve de exorcismo das emoções. Mas as vezes, escrever só faz sentir mais vazio... e dói.
E concordo com a Talita aqui de cima. Não achei nada brega.
Poucas vezes vi algo tão explicado e explícito sobre o ato de escrever...é isso mesmo, é tanto que doeu te ler, porque te lendo me reli entende??
Maravilhoso post, como sempre!!
Beijos!!!
Não consigo escrever mais nada. Disseste tudo. Uma beleza!
olá!
tem selinho para ti lá no Perfumes..
beijos e linda semana..
quando escrevo tenho a sensação de que escrevo pra dentro, pra ver se acho alguma coisa por lá (não sei onde é lá, talvez aqui,aqui dentro..) Ótimo texto!!
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