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domingo, 1 de maio de 2011

Autofagia



Reformulando o blog, queria fazer uma “bio”. Ô, tarefinha difícil, Srº Blogspot!

“Quem sou eu?” E eu lá sei quem sou? Se eu soubesse, então provavelmente não precisaria deste blog. É justamente porque não sei quem sou é que preciso escrever. Preciso me inscrever. Sim, eu preciso. Porque preciso ir em busca de mim. E também preciso me perder. Preciso me desfazer de mim e preciso me guardar. Porque eu não me perco de verdade, eu apenas brinco de me perder, que é pelo puro prazer de me reencontrar. Ah, que delícia é me encontrar. Eu penso: “é, isso sou eu”. Aí, pronto, eu escapo de novo. Escapo de mim mesma que é pra não me devorar. Tenho tendências à autofagia. Sou um perigo pra mim.

Vivo de perdas, me alimento de buscas, me assusto com encontros. As letras me ajudam na brincadeira. Porque as palavras podem parecer ser importantes, e de vez em quando me parecem ser tudo. Mas não são.  E isso só não se chama ilusão porque não acredito em mim mesma. Palavras são as minhas roupas. Acentos e pontuações são os meus acessórios. E aí eu brinco de fazer várias combinações. Brinco de ficar mais bonita, me enfeiar, me enfeitar, me fazer. Mas o que importa mesmo é o corpo que as palavras revestem. É de um corpo que a gente não pode dizer com palavras. Mas a brincadeira é tentar. Quem sou eu? Um corpo. Revestido de palavras. E eu adoro trocar de roupa.

É por isso que preciso me concentrar arduamente nos meus desencontros. Alma e corpo não podem se encontrar por um longo tempo, apenas lhe são permitidos encontros efêmeros. Querer e desejar são mais do que verbos - muito mais - e deve haver uma boa distância entre eles. Aquilo que parece ser, não é o que parece. O que eu digo não é o que eu queria dizer. O que eu sinto não é aquilo que eu acho que sinto. O que eu escrevo não é bem aquilo que eu penso. Porque entre uma coisa e outra, há um abismo. E eu, não sou nem uma coisa nem outra, sou o abismo que há entre elas. Me encontrar é me sufocar.

41 comentários:

M. disse...

As tuas perguntas são as eternas, primordiais e nunca respondidas perguntas...

Ainda bem.

Gostei da maneira como te vestes:)

Fernanda H.A. disse...

Acho que toda vez que eu escrevo, eu me renovo. Mas quando leio algo que escrevi há tempos, sei exatamente quem eu era naquela época!

Betha Mendes disse...

Descobrir-se assim, abismo, incompleta, confusa... é viver. porque viver é descobrir-se e refazer-se sempre!

bj

Betha

Ferreira K. P. disse...

Você deve procurar onde está você, e mesmo encontrando talvez não sejas você.
maravilha de texto, poesia pura...
lava a lma das gente e nos faz pensar.
Muito obrigado por visitar meu Blogzinho.

Anônimo disse...

Complexa
Poética

Beijos, Alicia!

Hermes Eleggua disse...

Muito bom,
gostei.

A respeito da pergunta, quem sou eu? acredito que somos uma eterna interrogação. Como diria Geraldo Eustáquio, "quando eu me pergunto quem sou eu, sou o que pergunta ou o que não sabe a resposta?"

Abçss



Abçss

Roberto B. disse...

como isso é tão familiar para mim, tão...



de qualquer forma, além de identificar excessivamente com tudo isso, adorei o escrito.

Ayanne Sobral disse...

A[i]liiiiciia, que lindo.

Também não sei quem você é.
Mas pelos sentimentos com que temperas as tuas palavras, desconfio que você é mesmo além do que pode ser dito.
Algumas pessoas conseguem fingir, mas você é autêntica, como eu nunca vi.
Especial.

Me sinto tão lida aqui que só poderia mesmo ser fã.

Ayanne Sobral disse...

PS: Tá bem lindo aqui. Impactante.
(:

Anônimo disse...

Nossa estou arrepiada aqui, com esse texto, com essas palavras que me tocam profundamente,
´´Vivo de perdas, me alimento de buscas, me assusto com encontros.``

Preciso dizer mais alguma coisa? Não né

Seguindo*

Lia Araújo disse...

Vamos nos dá o direito de não saber quem somos... assim, não nos limitamos e poderemos ser muitas...

Lindo texto...
beijos querida
seu blog sempre lindo...
otima semana pra ti!

Sandra Gonçalves disse...

Tem selinho lá no Meu Aconchego pra vc.Meus 500 seguidores.Queria dividir com vc essa alegria. Beijos achocolatados

Mila Ferreira disse...

Hummm adorei, vc conseguiu passar bem essa necessidade de escrever.
Ah eu tb adoooro trocar de roupa!

Escrever para mim é quase como vestir roupas que eu jamais vestiria, sabe?... É como se as palavras fossem capazes de me libertar do marasmo e das terríveis regras sociais que selecionam nossas palavras faladas... na escrita não... a escrita é um libertar... é dar asas a um passarinho que sabe bem o que é voar... enquanto que fora das palavras escritas é como se o passarinho ficasse engaiolado e com as asas cortadinhas....


Bjs e boa semana!

Mente Hiperativa disse...

O bom é que a gente que te acompanha passa a te descobrir e a SE descobrir à cada dia.

bjo

Teresinha Oliveira disse...

Vamos falar a verdade! É tão bom encararmos esse grande mistério de nós mesmos.

Camila Fontenele disse...

Nesse desencontro a gente se encontra e se perde de novo. Essa é a graça!

Um beijo ;*

Lívia Azzi disse...

Gostei das mudanças no blog, Alicia!

Essa prosa provocou-me arrepios e sorrisos! Excelente conexão com a imagem, a personagem, a escrita, a autora.

Toda vez que te leio, eu me jogo nesse abismo!

"... choque com o limite da linguagem, incapacidade angustiante de dizer o indizível, de ultrapassar as grades. O que se quer dizer está sempre lá fora, além das palavras..." (Luís Fernando Veríssimo sobre Nabokov e Clarice Lispector).

Carina Destempero disse...

Adorei!!!
Discrepância, dissonância e hiância são o que nos move, a busca por esse encontro efêmero que nos constitui.

(E gostei das mudanças no blog também!)

Um beijo!

Camila Lourenço disse...

Alícia, sempre Alícia...sempre uma versão estonteante e esbaforida da Alice no país das maravilhas.

Amei!

Quem dera se todo abismo fosse cheio de vida como vc.

Bjo!

Cynthia Osório disse...

verdade... nossas palavras são nossos registros (coisa de quem escreve)!

Bjos!!

• samantha. disse...

A gente erra tanto nessa história de "Quem sou eu"
"Mas a brincadeira é tentar"
Vivemos em uma brincadeira então *--*
e eu adoro brincadeiras ;D

beeijoca, moça das palavras penetrantes' rs. ;*

Flá Costa disse...

Alicia do céu, primeira vez por aqui e estou impressionada em como me identifico com seu texto nesse exato instante.
Quem eu sou? Até quando eu vou ser? Quando me encontro me perco, essa coisa sem fim...

Adorei aqui.

Beijinhos*

Giovanna Cóppola disse...

Como já disseram anteriormente, gosto da maneira como você se veste.

O mais legal disso tudo é, de fato, achar que nos encontramos e, de repente, escaparmos de novo. Acho que, no fundo, é proposital. E necessário. :)

Anônimo disse...

Um pássaro afobado precisando de uma mão.

Andreza Salvio disse...

é verdade o que disse. Não tem como saber quem somos e, quando descobrirmos, perderá a graça. ;*

G.Pereira disse...

me identifiquei profundamente com este texto.
mas, a essência é a mistura de todas as coisas em uma só.

te sigo, beijos meus.. Darling

Lê Fernands disse...

sinceramente... a última coisa com que me preocupo é saber quem sou... de vez em quando conheço um dos meus eus e, olha, me surpreendo! rsrs



bjsmeus

Vanessa Souza disse...

Quem sou eu é uma grande pergunta.

Fred Caju disse...

Autofagia é necessário!

Leo disse...

É pelo mesmo motivo que escreves, que pinto.

Verônica disse...

Seu texto falou demais comigo... me vi em alguns trechos.

Brincar de se perder é tão bom! Nos encontrar que é complicado mesmo...

obs. adorei o novo design do blog!

Bjão!
:)

Florisbella disse...

Eu digo uma coisa:Perder-se neste abismo não é nada assustador! rs

Beijos da Flor

Unknown disse...

Somos algo entre aquilo que achamos que somos e o que os outros pensam de nós (talvez)... li isso em algum lugar, não lembro onde...
Abraço

Anônimo disse...

Há, coincidência! Acabei de reformular o visual do meu.

Mudar é estar vivo. As linhas horizontais dos eco/eletro-caridogramas de quem morre é que o digam.

Florensa Dimer disse...

visitei e gostei daqui, estou seguindo!
me segue, espero que goste do meu blog tb.
bjs boa quarta-feira ♥

Anônimo disse...

Ah, você provavelmente logo vai me ler em outros comentários pela blogosfera dizendo sobre minha falta de tempo e como eu preciso selecionar uns poucos blogs para comentar nas poucas vezes em que tenho tempo pra isso e blá-blá-blá.

Nem preciso dizer que o seu está incluso na lista de blogs que não posso deixar de comentar, né? O grau de profundidade, beleza, sensibilidade, inquietude (embora você não seja Lívia, rs) é algo que só encontro paralelos nas grandes (e mais angustiantes) obras de literatura.

Saudades de quando minha presença aqui nos comentários era constante.

Beijos!

Marcelo Henrique Marques de Souza disse...

biofagia das boas, Alicia.. perdemo-nos justamente quando nos vestimos nas palavras, achando que achamos alguma coisa.. é apenas, sempre, como diz o Gullar, "alguma coisa alguma"...

Camila Alves disse...

"me encontrar é me sufocar"... às vezes também me sinto assim quando descubro uma nova parte de mim que ainda precisa ser cuidada...
A vida sempre será uma eterna descoberta. Nunca é fácil encarar o desconhecido!

:*
Beijos!

Unknown disse...

Um abismo sem solo. Várias palavras num silêncio. Um pouco de ontem e muito de amanhã. Entremeios eternos onde não somos e somos !!
Adoro te ler !
Bjs

Maiara Marques disse...

Quem sou eu, eu também não sei... mas em que, ou em quem, eu me inscrevo está mais perto do meu vir a ser.

Maiara Marques disse...

maimmarques@gmail.com