Páginas

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Sobre o aborto


Ontem o assunto comentado no twitter era o aborto. Devemos proibir? Liberar? Qual é a posição que cabe à sociedade tomar diante de gente irresponsável? (Porque pra engravidar sem querer, há que se ter no mínimo, uma dose de irresponsabilidade). Daí eu disse que ia dar um pitaco, e eis que surgiram várias discussões.
O pitaco que dei em no microblog foi o seguinte: Acho que é a mulher quem deve decidir se quer ter o filho, se não quer...e o homem só tem que calar a boca e assumir a decisão da mulher.
De repente o que o pessoal tava discutindo comigo era a questão de sexo, de gênero, nem mais aborto era. E é disso que eu quero falar em mais de 140 caracteres. Não das implicações políticas e sociais do aborto, mas do lugar da mulher nessa decisão.
O fato é que pro homem, nesse sentido, é tudo muito fácil. Come uma aqui, se apaixona ali, tem filho com uma, casa com outra. Pode-se montar a vida do jeito que bem entender. Não é preciso articular amor e sexo. Amar uma e transar com a outra é facinho.
Uma foda pode durar desde 5 min até umas 3h, para um homem. Já para a mulher, uma foda pode durar desde 5 min até uns 10 meses. Sim, porque a foda do homem acaba quando o espermatozóide sai do corpo dele. Já a foda da mulher, pode acabar só quando o bebê sai de dentro dela. E muitas vezes, é aí que a coisa piora. Há zilhões de mães solteiras pelo mundo afora que podem dizer disso.
É claro que não é a minha intenção vitimizar mulher nenhuma. Aliás, vitimizar nunca é bom pra ninguém. As Unidades de Saúde estão espalhadas pelo Brasil. Há camisinhas e anticoncepcionais gratuitos. Há informações por tudo o que é canto. Assim, se alguém engravida, há que se responzabilizar por isso, independente das contingências às quais esteja submetida. Isso é fato.
Mas acho que tem gente que tem a tendência de se dizer ser contra o aborto com a justificativa de “fez, cuida”. E muitas vezes o que está dito nas entrelinhas, é “Mocinha, você foi lá e deu, né. Agora te vira e cuida dessa criança!”.
Só que aí a sociedade coloca pra essa mãe, ter essa criança, como uma punição por ela ter engravidado. Ok, acho que talvez seja mesmo o caso de punir pessoas irresponsáveis de algum modo. Mas, gente, não assim. É extremamente assustador, desastroso, enlouquecedor pra uma criança, viver num ambiente em que ela não é desejada. Bem, o que tô dizendo aqui é, que a gente não puna uma pessoa com outra. A mesma lógica que funciona pra defender a proibição do aborto, funciona pra defender a legalização do aborto. Não é justo matar um ser vivo pela irresponsabilidade de outro. E nem é justo forçar a viver em péssimas condições um ser vivo, pela irresponsabilidade de outro.
Não costumo escrever sobre essas questões polêmicas, mas essa do aborto me beliscou. Talvez porque para mim isso seja, sim, uma questão de gênero. Muito me irrita homens julgando mulheres acerca disso. Podem me chamar de feminista, de ignorante, de seja lá o que for. Mas as mulheres sabem, que no fundo, há que ter um “plano b”, um modo de se virar sozinha. Homens podem ser maravilhosos, companheiros geniais, mas eles são assustadores: dissociam amor de sexo facilmente. Ou seja...em se tratando de fazer filhos, a responsabilidade cairá sempre à mulher de uma forma muito mais pesada do que cairá ao homem. E é óbvio que aqui eu estou generalizando pra poder falar do meu ponto de vista. Sei que há homens que são muito diferentes disso, mas não é disso que estou falando. (Não vistam carapuças à toa).
Enfim, acho que a questão do aborto é decisão de mulher tomar. Não digo no sentido político ou social, mas no um a um, no caso a caso. Sou mulher, o corpo é meu e tenho o direito de decidir o que entra e o que sai do meu corpo. A proibição do aborto é um estupro ao contrário.
Assim, não estou defendendo o aborto, nem a legalização do mesmo. Apenas digo que proibi-lo é uma violência. E acho que é justamente isso que falta na nossa sociedade. Discutirmos os temas, antes de tomarmos decisões.
.

15 comentários:

Alicia disse...

E quer saber? Acho que eu jamais faria um aborto. Mas respeito o direito de cada um

Talita Prates disse...

Achei tuas considerações muito pertinentes - e concordo com elas.

Bjo.

Anônimo disse...

Lembrei de um caso que a menina foi estuprada e já havia passado a época "legal" para fazer o aborto e ela foi obrigada a levar a gravidez até o fim. Imagina só vc passar 9 meses carregando uma criança que foi fruto de um estupro? É ser estuprada duas vezes...

Camila Lourenço disse...

Alícia,
eu tb jamais faria um aborto, mas sua linha de raciocínio faz sentido.
E outra, como acho que foi até vc que disse ontem no twitter: nunca vi ninguém deixar de fazer um aborto só pq era proibido.

Acho complicado discutir esse tema pq me sinto bem dividida. Vc falou certo:O que pesa é pra mulher, mas, cara, não dar a chance a um ser vivo de ter a oportunidade de viver e fazer seu próprio destino, mesmo que num lar contutbado, é mt injusto.
Se minha mãe tivesse seguido essa linha de raciocínio, teria me abortado. Não foi mãe solteira, mas na época, talvez tivesse sido melhor que fosse. Teria sofrido menos.
Se isso fosse legalizado na época, Steve Jobs não teria nascido, pois os pais não tinha condições de o criar e o deram para uma família com mais poderes aquisitivos, supostamente.

Ah cara, eu poderia citar mil e uma pessoas que não teriam nascido e feito a diferença no mundo se o aborto fosse legalizado, seguindo essa linha de raciocínio.
mas, enfim... texto bom ainda assim.

Bjo.

Unknown disse...

Sou a favor do aborto até uma certa idade do feto, até o mesmo ter uns 90 anos é aceitável em alguns casos...
Abraço

Nanda disse...

Ontem eu tuitei que se tem um assunto que eu não consigo falar é esse. Eu entro em contradição sabe?
Mas teu ponto de vista é muito lúcido, como sempre.

Ah, queria dizer que me emocionou teu comentário no 4 pecados, de verdade! Obrigada

Eider Fabrizio disse...

Bom, desculpem mas eu discordo totalmente.
No meu ponto de vista(óbvio), o que falta na verdade eh responsabilidade.

Hoje em dia parece que todo mundo quer tirar um pouco das culpas, quer deixar a vida cada vez mais facil e quanto menos responsabilidade, melhor.
As pessoas querem cada vez mais facilidades e mais aceitacoes em tudo, assim tudo eh valido e nada tem peso, no fim ninguem quer assumir nada.
Idiotas saem por ai matando pessoas, culpando o bullying e fica tudo "certo", alguns ainda terao pena, irao entender..
O mundo está ficando acomodado e mal acostumado..

A questao eh um pouco mais simples, antes de fazer algo, pense, avalie!
Parece que com essa "era digital" as pessoas querem tudo rapido, tudo no mesmo instante e saem por ai fazendo merda atras de merda sem querer assumir depois.

Nao, ta errado!
Pense, avalie!
mas faca isso ANTES!

Antes de querer ter querer exercer algum tipo de direito com o que sai do corpo de voces, tenham a responsabilidade com o que entra no corpo de voces.

Nao eh pelo fato de que a mulher carregará a criança por 9 meses que o filho sera mais dela do que do pai, isso nao existe. Os dois agiram juntos e "fizeram" essa crianca juntos,
logo, os dois sao responsaveis.

"SE" (e digo denovo: "SE") nao estivessemos falando de um outro ser humano, no minimo a decisao de ter ou nao a crianca seria dos dois, mas nunca seria apenas do homem ou apenas da mulher.
Mas como "SE" nao existe e o caso esta relacionado a um ser humano de fato, simplesmente nao interessa o que os dois pensarao depois, nao interessa..se quer pensar, pense antes.
O que quero dizer eh que se voce nao quer uma crianca, nao faca uma. Porque depois que voce a fez, seria uma crueldade absurda mata-la apenas porque voce nao a quer.
Sera que consigo me fazer entender? Seria como se o fato de alguem ser irresponsavel fosse motivo para tirar a vida de um ser humano indefeso.

Desculpem mas nao consigo conceber isso.

Nos temos a capacidade e o dom de "fazer", criar, gerar uma outra pessoa, temos a capacidade de dar vida a um outro ser humano...
Nao podemos banalizar isso!
No momento em que optamos por fazer uso desse dom (seja de forma consciente ou nao), carregamos conosco a responsabilidade de assumir o que quer que aconteca em relacao a isso.
Porque depois de feito, ja existe uma outra pessoa que tem os mesmos direitos que voce, inclusive o direito de viver...e voce, sendo pai, mae ou qualquer coisa que seja, nao
tem o direito de negar esse direito, muito pelo contrario. Tem sim o dever de dar todo tipo de recurso para que essa pessoa tenha uma vida tao boa quanto a sua.

Ingrid disse...

a consciência de cada um ..
mas haveriam menos riscos..
beijos...

Mente Hiperativa disse...

Me admira você, que é sempre tçao inteligente, falar uma coisa desse tipo:

"Acho que é a mulher quem deve decidir se quer ter o filho, se não quer...e o homem só tem que calar a boca e assumir a decisão da mulher."

Na hora de fazer ela fez sozinha? Caso ela deseje conceber essa criança ela vai dar amor sozinha? Ela vai bancar as contas sozinha?

É muito bom poder escolher se quer abortar ou não sem nem considerar a opinião do pai (e aí sim eu falo PAI, e não um-macho-qualquer-de-uma-fodinha-de-fom-de-festa). Mas na hora de cobrar pensão alimentícia ou exigir o registro do filho aí a mulher não pergunta se ele quer ou não, ela impõe seu desejo.

Eu não acho que seja por ai, não acho que a mulher decida e pronto... Claro que cada caso é um caso, às vezes a degenerada nem sabe quem é o pai. Aí complica.

Mas muitas vezes um filho apesar de não planejado, é completamente viável. As pessoas falam de filhos que são criados sem condições, sem planejamento e etc, pois eu conheço muitos que foram frutos do acaso, que os pais não casaram, que a mãe criou só, que foram criados por tios, avós, enfim, viraram gente, e não lhes faltou nada.

A principal razão do aborto é a falta de amor, não é a falta de dinheiro nem nada, quem tem amor cria, se vira, trabalha, pede ajuda mãe, LUTA, e vive. Eu sei que não deve ser fácil, mas cada um colhe o que planta.

Eu não concordo com a idéia de que a mulher tem direito sobre outra vida pois está é gerada no seu corpo. Se a mãe mata o filho de três anos é UM ABSURDO, ela é considerada uma monstra e etc, mas se o filho ainda está na barriga com um mês aí é aceitável.

Não entendo isso.

Mente Hiperativa disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Mente Hiperativa disse...

Na verdade nao foi você quem me fez postar aquele texto sobre o aborto, eu havia postado um dia antes de você =p

Mas nao tenha duvida de que seu post acrescentou e enriqueceu bastante a minha pessoa. Assim como você disse eu tambem acho que ainda há muito o que se pensar sobre o assunto...

Mas que é um absurdo cogitar o aborto, ah é...

Bjo

Marcelo Henrique Marques de Souza disse...

A questão do aborto é polêmica porque confronta duas questões fundamentais do ser humano, 'liberdade de escolha' X 'proteção à vida'. A lei vai seguir parâmetros ditados pela ciência e tal.. e aí entra toda uma discussão sobre 'o que é vida' ou 'o que define o ser humano para além do feto'.. na carne e no osso da coisa, o buraco é mais embaixo, como sabemos..

Eu não sou contra o aborto.. e acho que você tem razão quando coloca a mulher como protagonista da questão, não porque ela seja 'mais amor' que o homem (até porque tem um monte de mulher que enche a barriga de filho pensando no bolso do cara e não em ser mãe, no sentido mais grave da palavra..), mas porque o corpo no qual a criança vai durar os nove meses é definitivamente dela.

Mas é preciso, enfim, analisar caso a caso. A liberdade de escolha não é um valor absoluto a priori. É preciso ponderar..

Beijos

BG disse...

Prezada Alicia, permita-me que a chame assim, pois a visito tanto em seu blog, que a considero íntima. Concordo que ter ou não um filho é decisão da mulher. No entanto, uma foda pra mulher, pode não ser só 5 min, e sim uma vida inteira! Por isso, como homem, e pai de uma menina, sou totalmente a favor do aborto, contudo, não como método anticoncepcional! Infelizmente, no Brasil, o aborto ainda é crime, mas como médico, digo que crime, sãos os abortos realizados em clínicas clandestinas, sem as mínimas condições de higiene! Isso é crime contra a saúde da mulher, que põe em risco sua própria vida ao querer decidir seu destino. Enfim, assim como hoje, casais que não podem ter filhos, recorrem a medicina, a mulher que decide em não tê-lo, tem o direito de fazer com dignidade, sem por em risco sua vida.

BG disse...

Ah! Minha filha foi desejada, programada e amada! É minha inspiração e que me alimenta a alma. Sem ela, hoje, eu morreria! Ou pelo menos, não teria motivo para continuar vivendo!

Mente Hiperativa disse...

Pô achei legal o posicionamento do BG contra o aborto como metodo anticoncepcional, sensato isso. Muita gente banaliza, acha que é assim, fazer e depois ir ali na esquina tirar, como se tira uma verruga. Bah...