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sábado, 3 de setembro de 2011

Há algo em mim que grita quando silencia




É comum eu me queixar do seu silêncio, da sua mesquinharia com as palavras e com os versos que se fazem de letras.
Mas ultimamente eu é que tenho me calado. Não sei por quê. Poderia dizer que é o reflexo do seu silêncio, mas isso seria pura hipocrisia minha. Não, a minha atitude não depende da sua. Amar é apesar de, e não porque. E eu te amo apesar de você ser você. E quero ser amada apesar de ser eu mesma.
Pois bem. Do que é que se trata esse silêncio meu? Veja só, que você sequer se queixou do meu silêncio. Porque ele talvez nem exista para você; mas em mim, grita.
Esse silêncio, tão meu, me berra coisas incompreensíveis. Trata-se de uma série de vogais, numa miséria de consoantes e de pouca expressão facial. Trata-se de um silêncio angustiante, por ser pouco compreensível.
Há algo em mim que me cala, enquanto grita. E eu não sei o que é. Há algo em mim que me grita enquanto eu calo. Talvez seja um mini-surto. Porque vc sabe, né. Tenho vários mini-surtos. Quer saber? Você não sabe. Não tem a menor idéia. Tenho crises existenciais gravíssimas, da qual você mal tem notícias. E não é porque eu sou ensimesmada, autista (como você adora dizer que sou), ou egoísta. É simplesmente porque decido te poupar de parte das minhas loucuras. Você não agüentaria. Ou, eu é que não agüentaria me enxergar enlouquecendo diante dos seus olhos.
E depois tudo isso passa. Em um mês, ou em um segundo... O tempo é meu amigo e sempre me surpreende.

13 comentários:

Danelize Gomes disse...

menina, tu tem certeza que não namora com o mesmo namorado que eu e que não sente as mesmas angustias que eu?
É esses mini-surtos que eu tenho,rotinamente,ele não aguentaria saber de nenhum terço. Poupo-o.

Ah, amo teus textos!
Parabéns!

Ayanne Sobral disse...

Um silêncio angustiante como um dia que a gente quer que acabe logo, só porque há possibilidade do céu voltar a ficar azul.

E por ter o meu silêncio aqui, pulsante, digo que o teu texto poderia ter sido escrito por mim também. Porque entre mini-surtos, crises existenciais e sintomas de autismo [!], as minhas cenas são filmadas iguais.

É preciso que os ruídos do silêncio se tornem poesia pra fazer a alma versar de leve, pra querer se colorir pro amor, pra acreditar no tempo que é amigo. E que surpreende, sempre.

Bonitas são as tuas palavras e os teus silêncios. Bonito é isso que você faz. Ah, como eu gosto de te ler. Fico toda besta do lado de cá, pensando como alguém pode falar tanto de mim, e não ser eu. Tipo, eu surto mesmo. rs.

Obrigada por escrever. Fim.

Eider Fabrizio disse...

Engraçado como as vezes o silencio chora.
Delicados, as vezes, sao os motivos pelo qual ele brota.

O silencio nunca é silencioso, seja num espelho, num avesso ou até mesmo num microconto.

Pra mim, Eider, toda gritaria tem um fundo de silencio e nem toda verdade vem, no fundo, de algum sentimento. As coisas simplesmente estao aí e as vezes os outros nao notam, é natural. É natural também quando ao invés do outro, o mesmo nao nota, afinal silencio é silencio e vice-versa.
As vezes ele grita, as vezes ele berra..
O problema 'e quando o outro nao enxerga.

Mente Hiperativa disse...

Que massa a identificação que rolou aí em cima rsrsrrsrss


Eu tive uma namorada que era assim, me poupava de tudo, no fim das contas eu não aguentava mais tanta contenção, parecia tudo tão simplório e seco que eu não aguentei mais.

Na minha opinião - e abro um adendo pra confessar que sou sim meio excêntrico - eu prefiro mil vezes que fale, que exponha, que bote pra fora o mal-estar, a angústia, quero mais é ouvir, e se der briga, que dê, a gente resolve, a gente se entende...

Depois de brigar eu entendi porque certos casais brigam toda semana, não há nada melhor que reconciliar.

às vezes a gente se dói por dentro achando que o outro não aguentaria, mas aguenta sim. E você aguenta? Por quanto tempo vai se aguentar assim? eu prefiro dividir, e prefiro que dividam comigo, ou me sinto sozinho num paraíso de bem-estar que me incomoda - sim eu sou excêntrico - e quando eu vejo nos olhos dela aquela agonia contida, aquele mini-surto sufocado, eu fico mal, ASSIM é que eu não aguento.

Nos meus namoros eu sempre fico espetando pra que o mini-surto seja vomitado, eu sinto necessidade de saber as crises existenciais pelas quais aquela criatura que tá comigo está vivendo, ou então ela não precisaria estar comigo, confere?!

Às vezes eu me acho estranho, mas estranho é se sentir bem com alguem engolindo o surto ao seu lado.

bjo

Mente Hiperativa disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

Esse silêncio dá agonia. De vez em qdo silencio pq não consigo saber o que estou sentindo ou não sei qual decisão tomar... Ler o q vc escreve as vezes me revelam coisas q eu sei mas não tinha pensado ainda rsrs... ler e escrever alivia.
Abraço

Anônimo disse...

O silêncio fala uma outra língua, por isso é tão difícil entendê-lo.

Thalita Santos disse...

Alicia, e quantas vezes nos silenciamos querendo dizer algo que nem as palavras seriam capazes de fazer tal pessoa compreender, mas que o silêncio também não faz, porque não é notado. Tão triste esse falar silencioso incompreendido.

Está lindo o texto! Aliás sua escrita sempre me cativa.

André Salviano disse...

O silêncio, na maioria das vezes é ouro. Outro dia escrevi sobre isso. O problema é quando o silêncio deixa de ser solução pra ser fuga, nesses casos o tempo nem sempre será amigo.

Texto pra ser lido e refletido.


baci,
@paraquenomes

Flá Costa* disse...

Uau! Sao raros os textos q falam tanto ao coracao, cheio de sinceridade. Eu tambem sou cheia de mini-surtos: coisa de mulher, q homens nunca entenderao.

Bjos!

Sandro Ataliba disse...

Entendo perfeitamente a situação, pois nela também sempre vivi. Nas horas que mais quero gritar, prefiro o silêncio, pois ele sempre me salva. Não de situações das quais não posso sair, mas daquelas as quais posso tornar piores.

Carinne Barbosa disse...

O silêncio pra mim é algo tão preocupante, pois sou um ser falante. E quando me silencio é pq tem algo gritando em mim. Mas como você mesmo diz: passa. "O tempo é meu amigo e sempre me surpreende."


Adorei o texto.

Um beijo.

Lívia Azzi disse...

Enlouquecer diante dos olhos dele provoca-lhe uma dor maior que amor.