Eu te amo e isso não é coisa efêmera.
É verdade que o amor não é palpável. É, eu sei que o amor é uma coisa difícil, ou talvez impossível de se descrever. Li Drummond, dizendo que “o amor foge de todas as explicações possíveis”.
É também verdade que te amo com a minha alma, num lugar onde os corpos jamais poderão alcançar.
Mas o meu amor transcende essa história de almas, e assustadoramente alcança o meu corpo, da forma mais brusca o possível. O amor me assusta. Invade o meu corpo de um jeito infernal, como se a carne fosse puro objeto do amor. Sim, amor não é céu, é inferno.
No céu as coisas devem ser só bonitas, as pessoas bem verdadeiras e as nuvens devem ser possíveis de serem tocadas e comidas. Devem ter gosto de algodão doce. Lá no céu, até o amor deve ser algo que a gente pode ver com os olhos e sentir a textura com as pontas dos dedos. E deve ser macio. Sorrisos sinceros, honestidades leais, promessas cumpridas. Tudo tangível, tudo possível. Sem barcos furados. Tudo quadradinho e bonito.
Pois o meu amor é o inferno. Eu não posso pegar o amor, e eu não posso descrevê-lo. Não posso, ou não consigo...o amor não funciona.
Ainda assim eu escolho amar. Eu escolho o inferno, assim, sem titubear.
O inferno que é querer te ter, e você só saber escapar.
A acidez que é querer que você deixe de existir no seu corpo e passe a compartilhar um só espaço comigo - desejo fadado ao fracasso.
É querer com todas as mitocôndrias das minhas células, sugar a sua alma - mas só poder sentir a tua pele.
É suportar o peso irritante do meu desejo, que insiste com a maior teimosia do mundo - em exigir o impossível.
É ser doce com você, ainda que não colabore comigo, ainda que se recuse a entrar no barco furado e frágil em plena tempestade - que é o meu desejo.
É te agradecer por recusar o meu convite.
Você faz bordas à minha loucura. À loucura do meu amor. Eu só sei enlouquecer, você só sabe me conter.
E o mais bonito é que isso tudo, você faz sem perceber, por amor à mim. Por medo de mim. Porque se o meu desejo é satisfeito, eu te engulo. Se eu te engulo, você deixa de existir. Se você deixa de existir eu deixo de te amar.
É você quem faz com que eu possa continuar te amando amanhã, apesar de hoje. Eu te amo e isso não efêmero. Eu dou corpo ao amor e o eternizo. Mas o amor, por si só, é coisa efêmera. Ou será coisa de fêmea?
40 comentários:
É verdade que o amor não é palpável. Mas é tão grande que é como se fosse... E se fosse, seria uma pedra gigante, não caberia na mão, mas nos esmagaria.
Sim, amor não é céu, é inferno. Baudelaire fica doido lendo isso, de alegria.
Eu dou corpo ao amor e o eternizo. Mas o corpo morre. E o amor? Morremos dele/nele/por ele.
É coisa de macho também. Machucados.
Se o amor é assim tão infernal, se é tão ruim, porque insistimos em quere-lo????????
ISSO que eu não entendo!
Será que somos todos malucos, masoquistas, felizes demais que queremos algo pra nos abater ou nos desestabilizar?
O que tem de tão infernal e macabro o tal do amor que nos impulsiona em direção a ele mesmo que racionalmente saibamos que não é algo tão bom assim?
Porque o amor faz isso com as pessoas?
Que força oculta é essa?
Que força oculta é essa? É o coração. Por isso que ele fica escondido, dentro do peito.
E cá pra nós, um troço cheio de sangue, se contorcendo, pulsando, nos batendo todo dia, que beleza a gente vê nele? A mesma que a gente vê no amor.
Essa coisa toda, feia e bonita ao mesmo tempo, que está por trás do amor e que é bem parecida com ele: a vida. É isso que a gente quer, mesmo que doa. E o amor doi, e o amor doa.
Que eficiente. A resposta veio rápido =D
O amor ama a falta - encarnada no outro.
O amor que demora, as respostas não.
O amor ama a falta, por isso é saudade.
Chega de saudade. =)
Uau! O texto continuou [lindamente!] nos comentários.
Fiquei sem palavras.
Amor é mesmo inferno.
Tinhoso que só, quer sempre evidências no corpo, se esparrama, invade, transborda.
Efêmera é a nossa vontade que ele vá [ao inferno também, porque não] e pare de nos lembrar [no calor da pele] que, mesmo indo, fica.
Amei o texto. Amei esses comentários. E, juro, não vou esquecer. Não posso.
Alicia, você é incrível.
Lembrei de Drummond:
'Terei um dia conhecido teu vero corpo como hoje o sei de enlaçar o vapor como se enlaça uma idéia platônica no espaço?'
(:
O amor é uma cachaça, forte e viciante. Pena que nem todo mundo gosta.
Alicia, você é incrível [2]
Como sempre um texto lindíssimo! E eu sempre achei, desde menininha, que as nuvens tem gosto de algodão doce!
Presente para os olhos te ler!
bejos!
Que texto incrível, intenso, ameii,
O amor é uma loucura mesmo, não sei nem o que dizer, esse texto fala por si só, muito bom
bjuss
Alícia, fiquei sem fôlego...
Senti meu amor na carne, ardendo, queimando, sangrando... sim, pq o amor é inferno. Isso é amor!
E pobre do amor que pode ser descrito (Shakespeare)
Bjos
Vc sabe usar tão bem as palavras quando fala de amor.....
O amor é inferno... é céu, é alegria... é dor...
O amor é eterno e passageiro... o amor é o amor e jamais saberemos entender completamente este sentimento.
Beijos!
O Amor... nem sei explicar o que é o Amor!
Deve ser esse Inferno ai mesmo que vc descreve.
Coisa de fêmea, macho. Abestados! /brincadeira ^^
É uma coisa que ninguém consegue viver sem!
adorei, como sempre! ;D
beeijoca ;*
Alícia, seus posts me causam cada vez mais mudez. Não porque eles não instiguem/despertem/causem associações, sentimentos, pensamentos... mas justamente pelo oposto: mexe tanto dentro daquele núcleo fal(t)ante dentro da gente que até arrepia, machuca, assombra e... emudece.
Por enquanto, esse post foi o que elevou ao nível máximo essas minhas experiências como seu leitor.
Parabenizá-la diante de tamanha intimidade-perversidade com as letras é muito pouco, chega a ser leviano.
e se o amor não fosse assim, não teria o mesmo encanto.
Beijos pra vocÊ!
:*:*:*:*:*
"Eu dou corpo ao amor e o eternizo. Mas o amor, por si só, é coisa efêmera. Ou será coisa de fêmea?"
E essa parte... Realmente não sei... hahaha
Muito bom!
O amor é coisa de todos, e acreditoq eu por mais doloroso que às vezes possa ser,é indispensável.
Quisera que todo amante "colaborasse" com o amado e se recusasse a entrar “no barco furado e frágil em plena tempestade” do desejo.
Assim, todo amor seria eterno, ainda que insatisfeito.
;-)
Ah! E como te entendo, Alicia!!! :)
"... eu prometo por toda a minha vida ser somente tua e amar-te como nunca ninguém jamais amou ninguém..." (Elis Regina)
o inferno dos outros é meu céu.
Voltei.
E, dessa vez, li Drummond e lembrei de você:
'Ser roubado é o mesmo que ser amado, só roubamos aquilo que nos falta'.
Acho que amanhã venho ler teu texto de novo, difícil vai ser me segurar pra não comentar.
[Ins]pirante viu?
Selinho pra vc no blog
O amor é um inferno mesmo, viu! Hoje tô atacada, pqp.
http://www.youtube.com/watch?v=M1_5fMdE5-0
http://www.youtube.com/watch?v=iLddJ1WceHQ
Às vezes tenho a sensação que amor, não é amor... Mas até o amor que não é amor, faz bem... vai bem!
Lindo, no seu caso acho que o amor é coisa de fêmea incorrigível! Parabéns, Alicia!
"O amor é coisa efêmera ou coisa de fêmea" achei legal isso!
Mas o amor é um equilibrio como vc muito bem descreveu. O outro precisa existir na nossa admiração pra ser amado.
Amor é só prá mulher doida. Bicho macho não ama assim não...Ama sem esse afã todo.Ama devagar, sem amar demais.
O amor é uma merda embrulhada num papel bonito.
#prontofalei
3 anos hoje que estou no inferno.
"O inferno que é querer te ter, e você só saber escapar.
(...) É ser doce com você, ainda que não colabore comigo, ainda que se recuse a entrar no barco furado e frágil em plena tempestade - que é o meu desejo.
É te agradecer por recusar o meu convite.
Você faz bordas à minha loucura. À loucura do meu amor. Eu só sei enlouquecer, você só sabe me conter."
Esse trecho conta a "minha vida"... hehe. =/
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