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sábado, 20 de outubro de 2012

Saudades de sei lá o que. Porque se eu soubesse do que era, não sentia saudade.

Sinto saudades e digo que é de você, quando na verdade é de mim que sinto falta. Sinto saudades da minha espontaneidade e da minha leveza. Do meu corpo cru e dos meus cabelos levemente mais cheios. Da minha taquicardia e dos meus desejos. Sinto saudades da criança que fui, quando era inundada em esperanças. Sinto saudades de quando eu achava que a vida de gente grande era melhor do que a de criança. E sinto saudades de achar que a vida de criança era melhor do que a de adulta. Saudades, pra mim, é um bicho estranho. Não sei dizer bem onde ou como é, nem onde é que sinto. Amor eu sei que sinto no peito. Paixão eu sei que começa no peito e se espalha por todo o corpo (até pelos cabelos e unhas). Mas saudades eu não sei em que lugar do corpo que machuca. E quando a saudade se mistura com culpa, acho que vira angústia e fica ainda mais esquisito. Não é culpa. Acho que raramente eu faço coisas que me gerem culpa, costumo pensar e analisar demais antes de agir, até porque tenho medo de sentir culpa. Isso, sinto medo. É um misto de saudades com medo. Quando um sentimento se mistura com outro, eu chamo de angústia, porque não dá pra definir o que é que acontece, os sentimentos não são como água e óleo, eles não só se misturam, mas se confundem. (Tem um nome pra isso, né? Acho que aprendi na aula de química) Enfim, acho que o amor é a única mistura de sentimentos que não é angustiante. O amor pode machucar, mas acho que ser angustiante, não. E eu já não concordo com mais nada do que escrevi aqui. Saudades de quem eu era quando comecei a escrever esse texto. Ah, estou insuportável hoje.

9 comentários:

Junior Gros disse...

A saudade é uma intoxicação. Ultimamente tenho tido vários sintomas. Sinto falta de uma borboleta que nunca mais bateu asas por aqui. Sinto falta de alguém com que rasgava as noites dessa cidade. É muito sintoma para poucos remédios.

Rafael João disse...

Que texto é esse!?

Nesses últimos dias tenho dormindo com essa sensação inquietante. Ter saudades de mim mesmo. É angustiante chegar ao ponto de perguntar pra si mesmo: "onde está aquela pessoa que eu era?" Só resta a saudade e o lamento. Porque a gente lamenta muito. E o lamento é uma saudade maquiada.

Texto simplesmente e loucamente lindo. Beijo. ♥

insonne disse...

Saudade é uma palavra bem dinâmica...E em cada um ela se manifesta de forma diferente.
Logo,expressa-se diferente também.
Tenho várias.Em sua maioria com nome e sobrenome.
É bom ter saudade,sinal de que um dia alguma coisa valeu a pena,neh?!
Como disse lá no twitter,é difícil identificar o lugar do corpo onde ela dói e machuca.
Pq ela machuca o corpo todo,corrói a alma,sangra,faz chorar,e em algumas vezes rouba-nos os sorrisos por um bom tempo.
Mas é bom senti-la.Apesar de doer,nos faz vivos.Pq se dói,é pq ainda se vive.E se vive é o que basta.
A vida é feita de saudades...
Hoje saudade de ontem,amanha saudade de hoje...
E assim vamos vivendo,e no seu caso escrevendo.Lindamente,como sempre.
Belo texto.
Surpreendeu meu sábado monótono.
<3

Anônimo disse...

Um texto que fala de uma coisa universal é uma saudade daquilo que fomos,ou pensamos que fomos, vez o outra somos atacados por esse estado de espírito. Amei a definição, 'angústia são sentimentos misturados', e acrescentaria "revirados" tb, rs,gostei tb onde disse que o sentimentos se confudem não são como água e óleo, e o final como sempre foi muito inteligente,texto delicioso...
@sandrahans

Danelize Gomes disse...

Aprendi a muito tempo que dor é sinal de vida, mas nunca tinham me dito que a saudade doía assim, exageradamente muito.
Também acho que os sentimentos não sejam heterogêneos, são todos substâncias homogêneas, cada um com sua camada de valência, puxando pra química.
Tu sabe que amo teus textos, Alicia, mas fiquei triste ao ler esse, porque mais uma vez me identifiquei com ele.
Beijo. <3

Ayanne Sobral disse...

Às vezes eu me pergunto onde foram parar aqueles dias em que a vida era quase leve, porque sinto saudades.
(Saudade é, pra mim, a palavra mais doída e mais bonita da nossa língua).

A vida era quase leve e eu nem sei, ao certo, em que momento deixei de ser parte daquilo que era. Porque uma "eu" se foi, sim, com o tempo. Mas, apesar de sentir saudade, eu sei que foi preciso me perder para não me perder mais.
Você entende.

Obrigada por escrever, Alicia. Por deixar essa coceirinha na alma de quem te lê - isso que provoca angústia mas que é decisivo para que uma pessoa não se torne um esboço de si mesma. Obrigada.

Anônimo disse...

Olá
primeira vez passando por aqui e AMEI teu blog, teus escritos
Parabéns!
Só uma dúvida, no item: sobre o blog e a autora fiquei na dúvida, teu nome é ou não Alicia Roncero?
Felicidades e inspirações mil
para Ti.

Sofhia B.

Fred Caju disse...

O título mata toda a questão.

Pontos e Pingos disse...

Um amigo me disse certa vez:
"Saudade é o preço que se paga por ter vivido momentos inesquecíveis."
Achei que essa é uma boa definição para essa palavra tão especial e que em muitos países não existe. Às vezes, esse preço é mesmo muito alto e o doloroso é não querer pagar. Uma guerra então se instala dentro de seres como nós, que a tudo e a todos questiona buscando explicações e definições para nós mesmos. Bonita produção!