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domingo, 27 de maio de 2012

Só é meu aquilo que posso carregar



O amor me suga e exige demais de mim. Não posso respirar sozinha, preciso suportar alguém dividindo o corpo comigo. Tranquilo, mulher se dá muito bem com loucuras de corpo.
(Sim, estou fazendo uma diferenciação e dizendo que não sei dos homens, mas sei que as mulheres suportam a falta de sentido que um corpo pode proporcionar. Se você é homem e discorda, favor vir falar comigo quando seu sexo estiver sangrando sem motivo aparente)

Então, como eu dizia, o amor me suga e exige demais de mim. Não sei ser feliz se você não estiver feliz. Não sei sorrir se o seu coração não estiver em paz, não sei  gargalhar se você não achar a minha risada bonita.

O amor rouba a minha respiração. Não sei existir sozinha no meu corpo feminino. Preciso sempre de alguém que garanta o compartilhamento do meu corpo. É angustiante depender de um corpo pra poder ter alma.

Só que hoje amanheci diferente. Não me pergunte o porquê, não me faça explicar o que eu não sei. Nada aconteceu, nada mudou. Eu simplesmente sei que não será assim para sempre. Eu só acordei portando a informação de que não morrerei se ficar a sós comigo. 

Acontece que só é meu aquilo que posso carregar comigo. E não posso carregar tanta neurose, meu amor.

O amor é sempre uma coisa antiga e por isso carrego com ele muita velharia. Gibi da Mônica, pega-varetas, o tédio de domingo, a cara de mau-humor da mãe, os cabelos brancos que começam a nascer no pai, a comida boa, a bolacha de natal, a tosse da vó, o cigarro do vô. E o vô nem fumava, mas tenho nostalgia diisso. E o amor nem doía, mas tenho nostalgia disso também.

Só é meu aquilo que posso carregar. Tchau, amor nostálgico, mas nessa vida é preciso correr. Não tenho coluna o suficiente pra uma mochila tão pesada. Larguei os bets. O amor é uma grande massa, a gente acaba chamando de amor muita coisa que não é. Agora só amo o que posso carregar. Sorte que você tá tatuado em mim, embora não esteja.


obs: não sei de quem é essa frase do título, se alguém souber, me avise pra eu dar os devidos créditos.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Os humanos podem até não ter um Deus, mas os cachorros certamente têm.


É estranho pensar que a vida acaba.
É claro, a gente repete esse clichê de que a única certeza que a gente tem é que vai morrer, e blablablá, mas é tudo da boca pra fora.
O fato é que a gente nunca se acostuma com a morte, e isso é viver.
Vez ou outra a morte aparece e me surpreende, mostrando que nada muda quando alguém falta. Isto é, nada muda no mundo. O trânsito, as piadas, as guerras, os encontros, o aquecimento global....tudo continua.
No domingo à noite, a morte veio aqui em casa. Ela levou um pedacinho de Deus, que estava encarnado em um bull terrier que era a coisa mais perfeita desse mundo. Ele estava doentinho, já tinha começado a sofrer, e de fato, era melhor que ele descansasse. Mas não estou falando de uma questão lógica. Até porque se tem uma coisa que não faz sentido nessa vida, é ela mesma e a sua companheira, a morte.
Ele se foi e o mundo ficou mais amargo.
Ele se foi e despertou uma dor no peito que me entristece e grita nos meus ouvidos: você está viva! Viver dói.
Ele se foi e não levou nada de mim. Isso realmente dói. Quando alguém morre, dizem que morre junto uma parte nossa. Só que acho que não é assim. Acho que o doído da coisa é que quando as pessoas morrem, nada nosso se vai, continuamos do mesmo jeito, e essa é a angústia.
Ele se foi e me deixou inteirinha. Aliás, ele só me deixou muito mais madura do que eu era antes de conhecê-lo. Me ensinou que o amor pode ser leve. Não precisa sangrar o tempo todo, ser exagerado, e não preciso estar eminentemente à beira de um precipício para ser amor. Nada disso. O amor pode ser leve, pode ser cheiroso, pode ser doce e pode ser simples. Não sei ser simples porque além de ser humana, sou uma mulher. Mas os cachorros, que são pedacinhos de amor na Terra, esses sabem amar. Desconfio, aliás, que somente eles sabem amar. E sabendo amar, sabem receber amor.
Só que eu pensava assim: cachorros são pedaços de Deus. Deus é infinito. Logo, os cachorros são infinitos. E então, nesse domingo, eu descobri que os cachorros também têm um fim. Eles também precisam de um corpo pra viver. E por mais que a alma dele quisesse viver mais do que tudo no mundo, mesmo que ele tenha sido forte e respondido bravamente ao desejo de viver, mesmo que ele jamais tenha se queixado de dor, ou de ir ao veterinário, o seu corpo simplesmente deixou de funcionar.
Sou infinitamente grata por você ter feito parte da minha vida. Sou uma sortuda por ter recebido o seu amor, e ter podido te amar. Agradeço até mesmo pelos meus sapatos (novinhos em folha, diga-se de passagem), terem servido de mordedor pra você. Obrigada por me ensinar o amor de uma forma absolutamente única. Estou certa de que terá a eternidade mais linda de todos os cachorros do mundo. 


(não deixo aqui espaço para comentários, porque penso que simplesmente não há nada a ser dito)



domingo, 20 de maio de 2012

Zona interior





Carrego uma bagunça em mim.
Eu sou a própria bagunça. Se por acaso a arrumo, deixo de existir.
Vocês têm noção de como é difícil ter que viver bagunçada pra existir?
Faço agenda, meticulosamente. Cumpro-a.
Mas se por acaso eu venho a perder a minha agenda, sei exatamente tudo o que está escrito lá.
Mas é claro que não é dessa bagunça que eu falo!
Sou responsável e sei parecer ser organizada.
Sei fingir ter o que não tenho.
Sei fazer charme.
Faço charme pra esconder a minha bagunça interior.
Uma vez, por acidente, um homem viu a minha bagunça. 
Descobriu a zona que há dentro de mim. 
"Me ferrei, pensei eu".
Mas o homem gostava de putaria, encantou-se com a minha zona e ficou em mim. 

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Das minhas loucurinhas

Acabei de escrever um texto e apagá-lo duas vezes seguidas. Da primeira vez o blogger salvou o meu texto, na segunda vez fui mais eficiente e sumi com ele mesmo.

Quem é essa que mora em mim? Quem é essa onde eu moro? Quem é essa que apaga os próprios textos que escreve?

Não sei bem de onde vem essa mania que tenho de escrever no próprio blogger, e não salvar as postagens em outro lugar. Acho que gosto da ideia de poder, de repente, perder todas as minhas letras pelo limbo da internet.

Eu dizia no texto que eu fiz sumir, de um compromisso que fiz comigo mesma. Prometi a mim mesma que não morreria em vida. Então escrevo pra não morrer. E essa morte da qual eu falo, não é nada profundo ou lispectoriano. É uma morte banal. Escrevo porque não quero virar um zumbi, e tenho fortes tendências a isso. Acho que tenho medo de matar o meu amor, se eu virar zumbi, e por isso escrevo tanto sobre esse tal de amor. Já pensei que estava tentando desvendá-lo, mas acho que fui mentirosa nesse pensamento.

Tenho amarras que me paralisam, enquanto o amor é um treco que me chacoalha. Gosto do amor porque ele me tira a razão. E a razão só me ferra nessa vida. Pensar é algo que não me serve muito. Serviria, se eu fosse corajosa. Mas nessa vida tenho medo de ter medo. (Leitor, se nesse momento vc pensa em deixar um comentário-clichê me dizendo que tem que ter coragem na vida e blábláblá....olhe pro seu próprio umbigo). Adoro conselhos, mas prefiro bater a cabeça na parede.

Tenho juízo em demasia, isso é falta de juízo.

Penso demais, e me realizo ao pensar.

O problema da fantasia é que ela nos satisfaz, ao menos em parte.

Às vezes acho que foi Lewis Carroll quem me fez. Acorda, Alic(ia)! Gritou o príncipe, após entorpecer-me com seus beijos. Sou uma bela adormecida que não deu certo. Escrevo porque vivo num limbo entre o sono e a vigília. Não quero abrir mão de nenhuma das duas coisas. E é disso que sofre o ser humano, de não querer abrir mão.

Por medo de perder, perco algo todos os dias.

domingo, 13 de maio de 2012

Eu não moro aqui

E essa tristeza que me toma?
Não sei, talvez seja mau-humor.
Algo sem motivo.
Minto. É claro que tem motivo. E de alguma forma, a gente sempre o sabe.
Sei tantas coisas em mim sem saber...
Meu corpo é tão inteligente! É por isso que ele dói.
Tenho vinte e muitos anos e todos os dias me corpo anuncia uma dorzinha.
Não sou maria-queixosa, é uma dor que me diz que estou viva, e não que sofro.
Fiz ballet clássico durante uns bons anos, tipo uma década. Minha professora dizia: bailarina sem dor é bailarina morta! Na verdade ela não dizia, ela gritava isso, muito brava. E eu levei ao pé da letra. Saí do ballet, não quis ser bailarina. Mas continuo me doendo pra saber que existo.
Uma articulação sussurra-me ao ouvido, um músculo fala mais firme, um tendão cantarola.
Mas há uma alergia, assim, uma coceirinha, que ah, essa me enlouquece.
É tipo aquela coceira nas costas que você beira a se arranhar, mas não consegue aliviá-la. Ou aquela coceira que anda. É uma coceira na alma. Não a alcanço, e ela dança em mim. Desdenha da existência do meu corpo e faz com que eu me sinta gigante pro meu corpo, minúscula pro meu corpo. Faz com que o meu corpo não seja a minha casa.
Se você está me lendo porque sempre me lê, sabe que tenho horror a conselhos. Não pense que estou sofrendo, é apenas o meu modo de viver.
Sim, minha alma está quase sempre desencaixada do meu corpo e é por isso que eu me movo. É por isso que eu não sou bailarina, mas danço. Vivo dançando.
A dança perfeita seria se eu não tivesse um corpo. O corpo me aprisiona. Quero sair daqui, sou claustrofóbica. Quero que me abracem, embora eu seja claustrofóbica.
Mentira, não tenho claustrofobia.
Tenho é uma vida mais ou menos que me faz escrever amenidades.
Queria eu sofrer muito pra poder escrever visceralmente.