Acabei de escrever um texto e apagá-lo duas vezes seguidas. Da primeira vez o blogger salvou o meu texto, na segunda vez fui mais eficiente e sumi com ele mesmo.
Quem é essa que mora em mim? Quem é essa onde eu moro? Quem é essa que apaga os próprios textos que escreve?
Não sei bem de onde vem essa mania que tenho de escrever no próprio blogger, e não salvar as postagens em outro lugar. Acho que gosto da ideia de poder, de repente, perder todas as minhas letras pelo limbo da internet.
Eu dizia no texto que eu fiz sumir, de um compromisso que fiz comigo mesma. Prometi a mim mesma que não morreria em vida. Então escrevo pra não morrer. E essa morte da qual eu falo, não é nada profundo ou lispectoriano. É uma morte banal. Escrevo porque não quero virar um zumbi, e tenho fortes tendências a isso. Acho que tenho medo de matar o meu amor, se eu virar zumbi, e por isso escrevo tanto sobre esse tal de amor. Já pensei que estava tentando desvendá-lo, mas acho que fui mentirosa nesse pensamento.
Tenho amarras que me paralisam, enquanto o amor é um treco que me chacoalha. Gosto do amor porque ele me tira a razão. E a razão só me ferra nessa vida. Pensar é algo que não me serve muito. Serviria, se eu fosse corajosa. Mas nessa vida tenho medo de ter medo. (Leitor, se nesse momento vc pensa em deixar um comentário-clichê me dizendo que tem que ter coragem na vida e blábláblá....olhe pro seu próprio umbigo). Adoro conselhos, mas prefiro bater a cabeça na parede.
Tenho juízo em demasia, isso é falta de juízo.
Penso demais, e me realizo ao pensar.
O problema da fantasia é que ela nos satisfaz, ao menos em parte.
Às vezes acho que foi Lewis Carroll quem me fez. Acorda, Alic(ia)! Gritou o príncipe, após entorpecer-me com seus beijos. Sou uma bela adormecida que não deu certo. Escrevo porque vivo num limbo entre o sono e a vigília. Não quero abrir mão de nenhuma das duas coisas. E é disso que sofre o ser humano, de não querer abrir mão.
Por medo de perder, perco algo todos os dias.
5 comentários:
Eu nunca conseguirei fazer um comentário digno da sua postagem. Você é maravilhosa, Alícia. Suas palavras causam em mim algo que nem eu, e aposto que nem elas sabem explicar.
Por favor, continue escrevendo.
Alicia,
Medo é um sentimento tão conhecido meu. Meu amigo de fé, meu irmão camarada. Ler teu texto me fez pensar nesse vento interno de toda hora, que chega sussurrando histórias e afetos, e depois, quando bem entende, leva tudo embora: as letras, os textos, a razão, o amor. O amor. Só não leva embora o medo. Esse medo de ter medo.
Às vezes escrevo, então o medo dorme. Gostaria que o modo de dormir fosse outro. Gostaria que enfrentando-o de peito aberto ele dormisse. [Talvez escrever seja enfrentá-lo de peito aberto, né? Ou não].
E eu gostaria de ter escrito esse texto, pelo tanto que ele fala de mim. Mas fico tão satisfeita de o ler aqui, com o melhor tom, com uma sensibilidade e verdade que, nem de longe, eu alcançaria.
E sabe do que mais eu gostaria? Sair por aí procurando esse texto que você apagou, porque, sei lá, acho que há coisas que não podem se perder, simplesmente. Acho que tuas palavras não podem se perder [até porque quero ler teus textos pros meus filhos e netos e tal, rs].
Beijo, minha amiga.
É que às vezes você precisava perder aquelas letras. Pra poder escrever essas. E a vida não é sem medo, tem até a ver com o que escrevi hj (essa nossa sincronia, né?), ausência de medo não é coragem. Coragem é viver COM medo.
Texto tão teu, e tão meu.
Um beijo, amiga linda.
Apesar de ter 20 anos, eu ainda não me conheço. Beijo
Sabe, não vou te mentir. Eu demorei para vir aqui e ler o teu texto. Até comentei o posterior a esse, mas não nessa tua loucurinha, porque fiquei meio confusa ao ler só as primeira frases.
É inusitada a forma com que tu te questiona e, sucessivamente nos faz questionar a nós mesmos... Provavelmente, eu tenha ficado um tanto apreensiva em ler o texto, talvez com medo do que ele fosse me fazer compreender desse negócio que chamamos de vida, mas li.
E mais uma vez, re-li e adorei. [Clichê é eu dizer que adoro os teus textos, né moça?].
E (se)perder é relativamente normal, como o (se)amar também é.
Magnífico, dona Alícia linda.
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