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sexta-feira, 29 de abril de 2011

Obrigada por estar vivo




Hoje eu vim aqui pra te agradecer.

Obrigada por estar vivo.

É. Simples assim. Não te agradeço por me suportar, por gostar de mim, por viver comigo ou por me amar. Porque se essas coisas acontecem, meu amor próprio diz que é mérito meu.

Mas agradeço a você por permitir que a vida corra pelo seu sangue, atravesse as suas veias e atinja a minha alegria. Agradeço à vida, que introjeta-se em você, contorna todo o seu corpo e reflete em mim. Porque diante dessas coisas da vida e da existência, eu nada posso fazer, senão suportar e amar a falta de sentido.

É porque você vive que eu posso me sentir pulsando. Sei que tenho vida ao sentir o calor do seu peito e o arrepio que me causam as suas mãos. Tenho alegria em inspirar o gás carbônico que você expira, e ter um pedaço real da sua existência. Nada melhor do que sentir o cheiro da sua respiração. Posso passar todo um dia sentindo a textura da sua pele e analisando as milhares de sensações que ela me dá. Posso passar a vida toda apreciando o simples fato de você existir e a cócega na alma que você me causa.

Delícia é acariciar a sua mão e sentir na minha o carinho que eu te invisto. Felicidade é sorrir para você e enxergar os seus olhos, que me olham refletindo e potencializando o meu sorriso, tornando-os um só: o mais sincero do mundo. Delícia é como os corpos se encaixam perfeitamente, ignorando todas as minhas teorias da incompletude e da imperfeição. Contradição é tocar em você, sentir em mim. Porque é no breve instante que não sei quem sou você e não sei quem é eu, que existo. Perco-me nas conjugações verbais e existenciais.

Alegria de existir é achar que posso contar com você pra toda e qualquer coisa, e ter a minha teoria comprovada, uma, duas, três, mil vezes.

Mas quanto maior o amor, maior a agonia. Isso é um perigo, uma enrascada pela qual sou enroscada.
E agonia é, no meio da noite ou de uma conversa, perceber a sua apnéia, quando nem você a sente. Agonia é imaginar que eu poderia sumir, junto com você. Agonia é saber que eu entrego toda a alegria da minha existência nas suas mãos.

Por favor, respire. Senão eu piro.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Escrevo porque meus dedos dançam



Batendo as unhas no teclado

Nada faz sentido

A inspiração vem, mas

Perde a força

Não alcança a ponta dos dedos

Evapora na minha áurea

Sinto fome na alma

A existência me dói

Não posso pôr isso em letras

Quem conta um conto não canta uma canção

Quem canta uma canção não vê as palavras dançarem, mas o ritmo

Canto desafinado esse dos meus dedos

Dá-me frio na barriga essa vontade de escrever

Escrevo porque meus dedos dançam

E o teclado alcançam

A alma escapou

Se amedrontou diante da minha inspiração

Sou só corpo

Sou só dedos que batem no teclado

Sou só espasmos

Ciao

Se não paro agora, morro.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Viver não é serio




A vida é uma grande sacanagem que Deus faz com a gente. Só morrer é sério. Eu tenho medo de fazê-los, leitores, se apaixonarem pela morte, assim como eu. Ah, mas que petulância a minha pensar que tenho tanto poder assim com as  minhas palavras miúdas. Eu tenho medo que a polícia me prenda por escrever coisas que fazem a morte parecer bonita, e a vida parecer feia.

Mas acho que só o amor à morte permite apaixonarmo-nos pela vida. Viver é uma pausa na morte. Amor é uma pausa na vida. Minto! Enquanto se vive, se morre. Amar é que é uma pausa na morte. Ou, melhor, amar é a ilusão de que se pode fazer uma pausa na morte.

E para mim, escrever é, de algum modo inexplicável, morrer um pouco. Acho que cada vez que escrevo mato parte de mim e me enterro no papel (vulgo arquivo). Escrever é me arquivar. É matar parte de mim e guardar as cinzas comigo. É não me perder para sempre. Escrever é fazer um furo na minha existência.

Ai, de mim, se eu não pudesse escrever. Então eu só poderia dormir, ainda que de olhos abertos, ainda que fingindo pensar e trabalhar. Porque dormir é um pouco como morrer sem se guardar. E amar é um pouco como sonhar: a ilusão de uma pausa.

E quanto à sacanagem que é a vida... bem, quem é que não gosta de uma sacanagem?

terça-feira, 26 de abril de 2011

Texto postado sem revisar - óbvio



Às vezes me dá náuseas de pensar na existência. Aliás, sem eufemismos. Náuseas nada. Tem dias que existir me dá ânsia de vômito. Existir me faz querer vomitar. E aí eu escrevo, que é o meu modo de vomitar. Se você está com nojo do que lê, ou se você é fresco (a), sugiro que interrompa a sua leitura por aqui. Porque hoje estou disposta a falar de coisas nojentas.
Acontece que o ser humano é péssimo e a vida é uma merda. Quer coisa mais nojenta do que isso? Quanto mais bonitinha, cheirosinha e bem-humoradinha é uma pessoa, mais podre ela é. Não há higiene na alma. Somos todos sujos. Deve ser por isso que morremos. E não adianta você fazer tudo certinho na sua vida, se pensa ou deseja coisas ruins. E não há como escapar dos pensamentos, muito menos dos desejos.  
É de repente que a gente se dá conta de que está no mundo. É de repente que a gente se dá conta de que vive e que tem um corpo. E é assim, sem nenhuma explicação. Temos sangue que corre nas veias e excreções que saem do corpo. E nenhuma tentativa de dar sentido a isso é suficiente. Todas as explicações nascem fadadas ao fracasso (assim como nós, que nascemos condenados à morte).
As pessoas entram na nossa vida, e gruda um pedaço delas na gente. Daí um dia as pessoas são arrancadas de nós. À fórceps. Silêncio. Mais silêncio. Concentre-se, vamos ouvir! Cri, cri, cri. Nenhuma explicação.
E é bem legal falar disso, discorrer sobre, quando tudo não passa de palavra rabiscada no papel, ou de letra na tela de cristal. Mas quando palavras e letras estão tatuadas em nós de forma ilegível, quando a nossa alma está rabiscada com sangue... isso dói, leitores. E é isso. Hoje nem eu mesma vou suportar me ler. Só vomitei palavras.

domingo, 24 de abril de 2011

Nem um título eu sei dar



Tá difícil de escrever hoje. Já mudei duas vezes de assunto, já apaguei duas páginas. Não consigo escrever nada decente. Tudo me parece piegas. Tudo me enjoa. E nem mal-humorada eu estou. É que eu não consigo saber do que é que quero escrever. Já falei de contos-de-fadas e de Páscoa, mas assunto nenhum me agradou por nem um instante,  e não podendo suportar as minhas palavras, assassinei-as. Talvez eu esteja exigente hoje. Talvez sem inspiração. Mas eu, que sou teimosa comigo, se decido escrever, obrigo a mim mesma a cumprir tal função. Náusea na alma! É isso o que eu sinto. Eu, que nem sou religiosa e que tenho os dois pés atrás com o capitalismo, comemorei a Páscoa. É. Estou em crise de valores. Tive um feriado com direito a bacalhau, chocolate, almoço e jantar em família. Desejei Feliz Páscoa como quem deseja Boa Sorte. Quando desejo Feliz Páscoa, desejo energias boas. E é só isso. Como bacalhau pela tradição, assim como poderia comer carne vermelha, bem mal passada e dançar em cima da mesa para fazer a digestão. O fato é que isso é uma mentira. Quisera eu ser tão descolada assim da religião ou do capitalismo. Eu adoro ganhar dinheiro e me pesaria a consciência comer carne vermelha. Dançar em cima da mesa? Faço-me rir. Oras, mas logo eu, que tenho teorias tão bonitas e leves com relação à vida? É. Pois é. E aproveitando que eu conto segredos aqui, revelo mais um (que na verdade é o mesmo, mas mais íntimo). Trata-se da minha visão do amor. Vou contar uma coisa minha que é muito séria. Talvez não seja para vocês que me leem, mas para mim, o é. Acontece que eu queria um amor bem romântico e meloso. Sabe pra que? Pra não querer mais depois. E não é que eu seja assim, decididamente louca ou malvada. (Decididamente, nada em mim existe.) Mas é que o meu corpo, a minha alma e o meu intelecto não coincidem. Vejo as cenas mais piegas e ridículas em filmes de comédia romântica. Penso que é um absurdo que alguém faça uma cena daquelas, que seria mais justo se alguns filmes fossem classificados como ficção-científica-para-mulheres do que como drama ou comédia-romântica. Seria mais leal com os espectadores. Seria mais leal comigo. E enquanto assisto a uma cena ridicula e forjada de amor, percebo que escorrem lágrimas dos meus olhos, meus pêlos se eriçam, a barriga sente frio. Ei! O que está acontecendo aí, Srº Corpo? E ele não me ouve, continua me fazendo chorar e arrepiar. E o intelecto se envergonha. E a alma se cala. Pois é exatamente disso que eu sofro hoje. De alma calada.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Meu sol laranja





Edredon verde, sol laranja, você de camiseta cor-de-rosa-macho-sexy. Cheiro de arco-íris. Até o ar parado do quarto parece me convidar a enxergar as cores da vida.
Uma onda de felicidade súbita me impede de voltar aos braços de Morfeu, e me conduz ao colorido do dia. Desconfio. É feriado e faz sol no mesmo dia. Tenho você, café e cama. Sinto uma alegria tão boa... O dia promete. E tudo o que promete decepciona. Não posso me encantar. Não posso não me encantar. Felicidade muito grande me sufoca. E o ar me falta quando você me sobra.
Ei, você. Eu não sei quem é isso o que eu chamo, agora, de você.

É um corpo que divide a cama comigo, que rouba a minha coberta, que me faz carinho enquanto dorme.
É um par de olhos que pisca pra mim e me faz derreter mais que chocolate nas mãos de criança baiana.
É um par de olhos que me olha sério e me faz congelar assim como pés descalços em Bariloche.
É uma boca cheia dos dentes mais sinceros.
É uma boca que se estica pros lados desenhando um sorriso e se tornando o meu mundo por um instante. 
É um corpo que carrega lábios capazes de beijarem os meus pensamentos.
É um corpo que carrega um muro de silêncio, capaz de espancar a minha alma.
É um corpo, que quando faz barulho, me arrepia, trazendo um breve sentido para a minha existência.
Você é o meu sol laranja, materializado num pedaço de corpo. E, sim, eu desconfio. Porque você, assim como o dia, promete. E tudo o que promete decepciona.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Nos seus olhos descobri




Nosso amor não foi à primeira vista. Eu te vi centenas de vezes sem nada sentir por você. Nosso amor foi à primeira vista. Eu te vi várias vezes até olhar para você.

Mas não sei bem quando foi que eu realmente te olhei. Não sei bem quando foi que me senti olhada por você. Na minha lembrança foi como num passe de mágica. Num dia você era só mais uma pessoa no mundo, noutro dia você era o meu próprio mundo.

Foi de repente que me dei conta de que o meu peito queimava, a minha alma formigava, meu coração parava de existir e a minha barriga esfriava – só de pensar na sua existência.

E a gente teve um romance moderno. Trocamos msn, sms, entre olhares e não-ditos. Você era o meu ficante. E aí foi mesmo ficando. E eu fui deixando. Fiz charme e me esforcei pra não me jogar nos seus braços de um dia pro outro.

Temia que você me achasse maluca, se descobrisse a loucura que eu sentia por você. Temia que se você visse o meu amor, se assustasse. Temia que não fosse amor. Temia que você não fosse você. Você era mágico pra mim. E dentro do meu louco amor apaixonado, temia que você pudesse ler os meus pensamentos, que gritavam, antecipadamente – eu te amo.

Ah, como isso me assustava. Um milhão de sentimentos e loucuras que invadiam o meu corpo e só me faziam querer respirar no seu peito. Eu estava irreconhecível. Eu já duvidava de mim e da minha existência. Não via em mim aquilo que via nos teus olhos, que me olhavam. E aquilo me interessou.

Foi com você que eu aprendi a amar vinho e a gostar de carne de porco. Foi com você que aprendi que o meu corpo pode ser vários. Descobri que posso amar sem enlouquecer. Descobri que conhecer o mundo e o próprio corpo podem justificar uma vida. Que a comida é coisa que deve ser respeitada. Que os animais são uma versão evoluída de nós, humanos. Foi com você que eu aprendi coisas que, talvez você mesmo, não tenha aprendido.

Seguindo a trilha do seu olhar, eu olhei pra mim. Refletindo o que os seus olhos diziam, eu também gostei do que vi. E foi só por isso que eu pude escrever. Porque os seus olhos despertaram a minha curiosidade – por mim mesma.

Céus! Eu existia antes de te conhecer? Bem, talvez eu estivesse dormindo. À moda da Bela Adormecida, você me acordou. Não com um beijo, mas com um olhar. Nem você príncipe, nem eu princesa. Sem reino encantado, sem felizes para sempre. Porque essas coisas todas só importam quando a gente não ama.

sábado, 16 de abril de 2011

Pa-ciência




Viver me exige muita calma. Ou melhor, as pessoas me exigem muita paciência. Eu tenho paciência, tenho bastante. Mas as vezes sou avarenta com a minha preciosa paciência, e prefiro guardar um pouco dela. Eu quero viver bastante, e cada vez mais vejo que mais preciso de paciência. E quando a deixo a no bolso, as pessoas me irritam. Muito.

Pareço ser legal. Sério, eu pareço mesmo ser legal. Eu sou doce. Verdade!

Mas acontece que eu odeio dois tipos de gente: as pessoas que são burras e as pessoas que acham que eu sou burra. E isso é, tipo, 90% da população. (Vejam que eu não disse que sou inteligente. Certo?)

Eu tenho vinte e poucos anos (ou vinte e muitos anos?), mas vezenquando, me sinto com oitenta. Parece que a vida já me exigiu demais e que, então, cansei de muita coisa. Mas a minha vida nem foi tão difícil assim, até agora, pra eu falar nesse tom de quem sabe-tudo.

Às vezes eu me sinto com quinze anos. Que é quando falo do meu modo infantil de amar, da paixão adolescente que tenho pelo homem com quem divido a vida. Ou, por certas teimosias que insistem em me acompanhar pelo passeio que a gente faz no mundo e chama de vida.

O fato é que fico oscilando. Não sei ter a minha idade, não sei ter vinte e tantos anos. Sei ter quinze ou oitenta. (Não digo oito ou oitenta porque além do clichê, acho que agir como quem tem oito anos já é forçar muito a barra)

Sei ter energia pra fazer um bilhão de coisas e nem parar pra respirar. Sei ter preguiça imensa de sair no sábado a noite.

Sei ficar vinte minutos de bom-humor na fila da padaria. Sei enlouquecer de irritação se a moça do caixa me atende sem me olhar nos olhos.
Sei ser extremamente compreensiva com a ignorância de alguém sobre si mesma. Sei ficar muito brava com um erro de português no cardápio do restaurante.

Sei amar um homem como se eu fosse morrer sem ele. Sei amar o mesmo homem sabendo que ele respira lá, e eu cá.

Sei gostar de usar trancinhas no cabelo. Sei querer ficar de pijama e sem brincos em casa.

Sei me embananar do jeito mais feio com as minhas contas. Sei trabalhar de um jeito muito responsável.

Sei ter blog, twitter, facebook com diferentes perfis. Sei fazer cara feia pra quem quer ipad e biblioteca virtual.



O que eu não sei é achar o que chamam de meio-termo. O que eu não sei é achar uma terceira opção. Eu sou uma jovem-menina-idosa. Perdida no mundo e irritada com as pessoas. Porque paciência eu tenho com quem merece. E é merecedor dessa minha paciência, quem é merecedor do meu amor (enfim, gente, cheguei no amor). Então, paciência mesmo, eu tenho com quem eu amo. O resto do mundo, eu suporto.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Sobre céu, inferno, honestidade, ética, e amor, é claro.



Acho que é importante a gente escutar o que fala. Igualmente importante é ler o que a gente escreve. E aí ao me ler, dou conta de que só sei falar de amor. Quando criei o blog, o objetivo era poder falar de coisas cotidianas, articulá-las com pensamentos e fazer um link com as minhas pessoalidades. Mas lendo-me, só vejo amor, amor, amor, amor. Mas por que isso?

Pode parecer, mas eu não falo apenas do amor sexual. Falo é de todo e qualquer tipo de amor. Não costumo dizer a qual amor eu me refiro, mas é de todo tipo: de mãe à cachorro, passando pelo romance. Porque, sinceramente, eu acredito que o mundo está contido no amor. E olha que eu não sou romanticazinha (ao menos acho que não sou) ou “mimizenta” como dizem por aqui. Também não acredito em Deus. (Isso pareceu desconexo? Talvez tenha sido. Agora vai me dar trabalho...)

Quer dizer, eu acredito em Deus. Mas o meu Deus (sim, meu!) não é esse que a maioria dos cristãos falam. O meu Deus é amor. E se lhe parece que não falo nada de novo (porque metade dos carros da cidade dizem através de adesivos que Deus é amor), acho ótimo. Mas talvez o que eu considero como minha diferença seja, então, o meu conceito de amor. Não acho que amar seja oferecer a outra face, como dizem os cristãos (independente do quão metafórico isso seja!).

Pra mim, amor é essa coisa que te faz sentir vivo. Freud chamou de libido. Poderíamos até chamar de pulsão (uau, como estou atrevida). E é isso o que eu chamo de amor. Amor por irmão, por cachorro, por mãe, por sexo, por leitura, por trabalho, por romance, por vida. Amor por amor.

Então, amor, para mim, é vida. Vida, para mim, é Deus. Logo, eu acredito em Deus, afinal de contas, é o amor que rege a minha vida. Mas aí eu preciso dizer pra vocês que eu não acredito na Bílbia, o que faz de mim uma pessoa não-cristã.

E tem uma coisa que as pessoas fazem muito e que muito me incomoda, que é confundir cristianismo com honestidade. Talvez porque quando se é criança a gente acredita  que se for mau, não vai pro céu. Se roubar, matar, desejar a mulher do próximo, usar o nome de Deus em vão, vai pagar por isso, e vai doer. Mas eu acho que se você faz a coisa por interesse – para ir para o céu, por exemplo – isso já te tira a ética.

Eu faço as coisas certas simplesmente poque acho que o mundo já está cheio de injustiças e eu não quero colaborar com isso. Sou honesta por rebeldia. Sou ética por imoralidade.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Eu quero te incomodar




Quero ser um ponto de interrogação. O seu eterno enigma. Quero ser a sua incansável pergunta. Quero que você às vezes se irrite comigo, às vezes se conforme com a minha chatice e às vezes se canse de mim. Sim, eu quero te incomodar.

Quero que de vez em quando, você tenha vontade de me matar. Quero que, de vez em quando, você tenha vontade de me deixar. E quero mais. Quero que você tenha coragem para isso. Que você seja homem o suficiente para ir embora.

Mas acima de tudo, quero que todos os dias, você escolha não me matar. Que você não me enforque, simplesmente, porque sentiria a minha falta. Que você não me jogue pra fora do carro porque me ama, e não porque as portas estão travadas. Quero que você me queira, todos os dias.

Quero que você durma na cama comigo porque gosta do meu cheiro, e não porque a cama é mais confortável que o sofá. Quero que você escolha fazer as suas refeições comigo porque gosta da minha companhia. Que você me abrace porque faz frio dentro, e não fora de você.

Quero, ainda, que você tente me satisfazer. Mas eu o advirto: você não irá conseguir. E não quero que você se frustre comigo ou consigo mesmo por causa disso. Simplesmente porque o meu desejo se metamorfoseia de forma acelerada. Eu não consigo acompanhar os meus impulsos. Logo, não espero que você consiga me satisfazer plenamente, eu não almejo que você me faça completamente feliz. Eu não preciso achar que sou a mulher mais feliz do mundo todo o tempo. Se quer saber, isso me sufocaria. Eu preciso ser infeliz de vez em quando, pra poder ser feliz de novo. A minha vida tem que ser insossa de vez em quando, para você poder temperá-la novamente. Felicidade o tempo todo se chama tédio. E nem de longe é isso o que eu quero. Nem pra mim e nem pra ti.

Não me compreenda, por favor. Não me entenda, pelamordedeus. Reserva-me o lugar de enigma na sua vida. Se te esforçares demais para me compreender, chegará à exaustão. Não quero que se canse.

E, por outro lado, eu te peço: não desista de mim. Suporta-me como incompreensível. Eu quero ser o seu ponto de interrogação, o seu amado e encantador ponto de interrogação. Mas se me lança olhares opacos, eu murcho. E a interrogação vira uma vírgula, chata e sem-graça. Permita-me que eu me sustente em um belo e curvelíneo ponto de interrogação.

Diante disso, eu lhe peço: Não decifra-me, ou te devoro.

sábado, 9 de abril de 2011

Adole-sendo



Estou eternamente debutando diante de você. Adolescendo.

Totalmente inadvertido, fazes-me as maiores declarações de amor. Sem serenatas, sem poesias, sem ser piegas, sem-querer.

Seria um crime se soubesses disso. Você jamais me diria coisa tão bela, se soubesse o que está falando. Doce ignorância a sua. Nem faz idéia do poder que tem sobre mim. Aliás, no dia em que souber, o terá abandonado.

Um dia, eu tinha medo de te perder. Tinha medo de ser abandonada. Amedrontrava-me terrivelmente a ideia de que você me descobrisse.

Pois é, agora eu me permito ficar nua diante de ti. É, eu sou isso. Tenho estrias na alma, celulites no coração. E se você não puder me amar assim, fico um tanto feliz que vá embora.

É porque eu te amo enlouquecidamente que te permito partir. Mas você decide ficar. E, internamente, eu morro de alegrias. Eu me fragmento em felicidade. Derreto-me em lágrimas. Mas não te deixo saber. Sou egoísta, e alguns saberes, guardo exclusivamente pra mim.

Amar é deixar ir. Vai, se quiser. Mas se te interessa saber, quero que fique. Quero que me convide a ir com você. Eu só te quero. Mas não posso te deixar saber disso, completamente.  E se você souber, torço para que não acredite. Então saiba só um pouquinho. Porque  no dia que você tiver idéia do que você é pra mim....céus, estarei perdida.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Porque as vezes te quero tanto, que ter um corpo me atrapalha.




Você exige muito de mim.
Eu sinto como se você estivesse nas minhas mãos. 
Como se as suas alegrias e frustrações dependessem de um leve movimento dos meus dedos. 
Como se, caso eu respirasse por um segundo a mais, você pudesse explodir.
Como se, dependendo da frequência do meu piscar de olhos, você pudesse derreter.
Como se, caso eu pisasse em uma folha seca com o pé direito, mas não com o pé esquerdo, você viesse a se fragmentar.
E é tudo tão intenso, que diante disso, eu me paraliso. Sinto que não posso me mexer, ou posso te desmanchar. E não, você não é perfeito. Mas eu amo a sua imperfeição.
Já tive tanta taquicardia, outrora, que o meu coração está com câimbras. Então, parou de pulsar, obedecendo a um comando da minha alma. Auto-preservação da espécie.
O meu sangue já não corre pelas minhas veias. Ele caminha, de forma branda e amedrontada. Assim como eu, o meu sangue pisa em ovos. 
O fervor da minha alma queima a pele do meu corpo. E aí eu não sinto dor, desde que eu não me mova. Meu corpo deixa de existir, e sou pura alma. 
Cronologicamente, isso tudo dura um instante, é efêmero. Mas continua a ecoar pela eternidade.
Aqui, no cinza da realidade, você nada exige de mim. E isso me é quase insuportável. 
Porque as vezes, te quero tanto, que ter um corpo me atrapalha.  
Quero um beijo da tua alma, na boca do meu estômago. Agora, por favor.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Ca-fé





O corpo sai do sono
Sem já sequer se lembrar em qual mundo onírico esteve

Entorpece-se de café
Que é para se manter na realidade

Manhã de sol lá fora
Arde a alma só de olhar

Respirar lhe é um dom concedido hoje
Agradece ao mundo

Viver
É uma oração.

domingo, 3 de abril de 2011

Amor que odeia




Dizem que amor é coisa verdadeira, se for “apesar de”.
E aí, pensando nisso, me dei conta de que eu não sou assim.
Eu te amo “justo porque”.
Mas isso me custa muito caro. Porque a linha que divide o “eu te amo” e o “eu te odeio” é tênue, é extremamente sensível. E eu deixo esta linha nas suas mãos. É justo você, que nem sabe disso, que controla quando é que eu te amo ou quando é que eu te odeio.

Eu te amo quando você é seco comigo, de um jeito doce. Acho engraçado e sexy perceber um pedaço seu, materializado numa resposta ácida.
Eu te odeio quando você é estúpido comigo.

Eu te amo quando você está distraído. Quando falo e você não me ouve, mas ainda assim responde, como num espasmo.
Eu te odeio quando você se recusa a tentar fazer duas coisas ao mesmo tempo.

Eu te amo quando você brinca com os cachorros ou sorri pra uma criança. Sinto que você é muito mais do que faz questão de ser.
Eu te odeio quando você não se dá conta disso.

E, sobretudo, eu te amo todo o tempo. E eu jamais odeio você. Mas o que acontece é que de vez em quando, eu queria te odiar. E aí, eu odeio a mim mesma. O "eu te odeio" é o meu puro reflexo.

Minhas células são tagarelas, e gritam, irritantemente, para a minha alma, dizendo que te querem, todo o tempo.
A minha alma com toda a sua impaciência, sussura nos meus ouvidos que te deseja ardentemente.

E as vezes eu me odeio por isso. Porque amar é misturar amor e dor, bom e ruim, sim e não.

Amar você é a maior antítese da minha existência. E ora eu amo odiar você, ora eu odeio amar você. Eu sei que você não entende (e isso até me alivia). Mas o ódio não é o oposto do amor, o ódio é o excesso de amor.

E no fundo, o que eu odeio, é deixar esta linha divisora em suas mãos. E no fundo, o que eu odeio, é que eu confio que você vá cuidar bem de uma coisa que você nem sabe que existe.

Eu amodeio você.

sábado, 2 de abril de 2011

A(s)ma




Eu não preciso que você seja romântico. Eu não preciso que você seja meloso. Eu não quero que você me entenda. Eu não preciso que você diga que me ama todos os dias. Eu não quero que você me elogie sempre. Eu não exijo que você se lembre de todas as nossas datas. Eu não quero que você seja perfeito.

Eu só quero que você acredite no amor. Eu exijo que o meu amor seja importantíssimo pra você. Superlativo elevado ao cubo. Eu tenho necessidade de beijos adolescentes. Eu morrerei no dia em que seus olhos não brilharem mais. Eu respiro palavras, então por favor, não me asfixie. Você pode falar com os olhos. Das suas mãos saem letras, dos seus sorrisos, as palavras brotam.

Diante disso, eu lhe peço: não se cale. Não sufoque o meu coração. Não abafe a minha alma. Pois é nas palavras que eu respiro. É no seu peito que eu existo. É no seu olhar que meus pulmões se afogam em oxi-gênio. E pra mim, nada melhor que isso. Pois tenho alma asmática. E é você quem controla o meu (am)ar.