Mentira, tô só pensativa, não sei guardar rancor nem de mim.
Vivo capturando as palavras alheias e tenho mania de enxergar verdades mesmo onde elas não existem. Qualquer que seja a roupa que você me vista, eu acredito que é a minha pele.
Talvez eu não tenha características especificamente minhas, então levo a ferro e fogo as suas palavras.
Isso é muito perigoso. Me jogo inteiramente nas suas mãos e acredito em tudo o que você diz. Por não saber o que sou, me torno exatamente aquilo que você diz que eu sou. Então posso ser qualquer coisa, desde que você queira.
Isso é delicioso. Porque se posso ser, posso des-ser também.
Sou uma pessoa sem corpo, sem personalidade, sem nome e sem desejo. Objetalizo-me para você.
E isso tudo é uma grande mentira, mas é muito mais fácil existir para você do que ser para mim.
Então me empresta aqui a sua existência pra eu sumir um pouco de mim. É pra isso que serve o amor, né.