Ontem o assunto comentado no twitter era o aborto. Devemos proibir? Liberar? Qual é a posição que cabe à sociedade tomar diante de gente irresponsável? (Porque pra engravidar sem querer, há que se ter no mínimo, uma dose de irresponsabilidade). Daí eu disse que ia dar um pitaco, e eis que surgiram várias discussões.
O pitaco que dei em no microblog foi o seguinte: Acho que é a mulher quem deve decidir se quer ter o filho, se não quer...e o homem só tem que calar a boca e assumir a decisão da mulher.
De repente o que o pessoal tava discutindo comigo era a questão de sexo, de gênero, nem mais aborto era. E é disso que eu quero falar em mais de 140 caracteres. Não das implicações políticas e sociais do aborto, mas do lugar da mulher nessa decisão.
O fato é que pro homem, nesse sentido, é tudo muito fácil. Come uma aqui, se apaixona ali, tem filho com uma, casa com outra. Pode-se montar a vida do jeito que bem entender. Não é preciso articular amor e sexo. Amar uma e transar com a outra é facinho.
Uma foda pode durar desde 5 min até umas 3h, para um homem. Já para a mulher, uma foda pode durar desde 5 min até uns 10 meses. Sim, porque a foda do homem acaba quando o espermatozóide sai do corpo dele. Já a foda da mulher, pode acabar só quando o bebê sai de dentro dela. E muitas vezes, é aí que a coisa piora. Há zilhões de mães solteiras pelo mundo afora que podem dizer disso.
É claro que não é a minha intenção vitimizar mulher nenhuma. Aliás, vitimizar nunca é bom pra ninguém. As Unidades de Saúde estão espalhadas pelo Brasil. Há camisinhas e anticoncepcionais gratuitos. Há informações por tudo o que é canto. Assim, se alguém engravida, há que se responzabilizar por isso, independente das contingências às quais esteja submetida. Isso é fato.
Mas acho que tem gente que tem a tendência de se dizer ser contra o aborto com a justificativa de “fez, cuida”. E muitas vezes o que está dito nas entrelinhas, é “Mocinha, você foi lá e deu, né. Agora te vira e cuida dessa criança!”.
Só que aí a sociedade coloca pra essa mãe, ter essa criança, como uma punição por ela ter engravidado. Ok, acho que talvez seja mesmo o caso de punir pessoas irresponsáveis de algum modo. Mas, gente, não assim. É extremamente assustador, desastroso, enlouquecedor pra uma criança, viver num ambiente em que ela não é desejada. Bem, o que tô dizendo aqui é, que a gente não puna uma pessoa com outra. A mesma lógica que funciona pra defender a proibição do aborto, funciona pra defender a legalização do aborto. Não é justo matar um ser vivo pela irresponsabilidade de outro. E nem é justo forçar a viver em péssimas condições um ser vivo, pela irresponsabilidade de outro.
Não costumo escrever sobre essas questões polêmicas, mas essa do aborto me beliscou. Talvez porque para mim isso seja, sim, uma questão de gênero. Muito me irrita homens julgando mulheres acerca disso. Podem me chamar de feminista, de ignorante, de seja lá o que for. Mas as mulheres sabem, que no fundo, há que ter um “plano b”, um modo de se virar sozinha. Homens podem ser maravilhosos, companheiros geniais, mas eles são assustadores: dissociam amor de sexo facilmente. Ou seja...em se tratando de fazer filhos, a responsabilidade cairá sempre à mulher de uma forma muito mais pesada do que cairá ao homem. E é óbvio que aqui eu estou generalizando pra poder falar do meu ponto de vista. Sei que há homens que são muito diferentes disso, mas não é disso que estou falando. (Não vistam carapuças à toa).
Enfim, acho que a questão do aborto é decisão de mulher tomar. Não digo no sentido político ou social, mas no um a um, no caso a caso. Sou mulher, o corpo é meu e tenho o direito de decidir o que entra e o que sai do meu corpo. A proibição do aborto é um estupro ao contrário.
Assim, não estou defendendo o aborto, nem a legalização do mesmo. Apenas digo que proibi-lo é uma violência. E acho que é justamente isso que falta na nossa sociedade. Discutirmos os temas, antes de tomarmos decisões.
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