Sinto apenas cócegas por você.
E aí digo que é amor.
Cócegas são pequenas angústias. Ou grandes angústias, dependendo da intensidade.
Cócegas são a denúncia de que não controlo o meu corpo, de que não controlo os seus movimentos, de que não controlo as minhas sensações.
O amor são apenas cócegas na alma.
Por mais que eu saiba que você vai me tocar com uma intensidade que oscila entre leve e agressiva, acima do meu ossinho da bacia, morro de agoniazinhas. Grito como se não acreditasse que sou dona de mim. Faço escândalo como se eu não fosse preocupada com a imagem que passo para as pessoas ao meu redor. Te arranho como se eu não me importasse com o susto que te causo.
E acho que a minha parte que mais de aproxima de mim, é assim mesmo. Machuca, desdenha, escandaliza. A minha parte que mais se aproxima de mim, me assusta.
E aí eu me visto, tal como uma cebola. (Porém mais lady).
Me visto de palavras, sapatos, roupas minimamente da moda e de ideias politicamente corretas sobre a minha pessoa.
E então acho que sou uma pessoa relativamente normal, relativamente equilibrada, relativamente educada, relativamente bem-adaptada, relativa-mente. Ah, como sou mentirosa!
No fundo sei que sou um poço de loucura, lutando avidamente para me disfarçar sem morrer. Porque se deixo de ser louca, deixo de me ser, e então morro. E se enlouqueço sem amarras, morro ainda assim.
A loucura mata, mas a normalidade mata ainda mais.
Prefiro morrer de morte vivida do que de morte morrida.
Prefiro morrer de cócegas a morrer de angústia.
Ao menos nas cócegas, há alguém me tocando. (A angústia é a pura solidão) Vocês sabem, é impossível que façamos cócegas em nós mesmos. As cócegas são a encarnação da falência dos livros de autoajuda. Tem coisas que simplesmente não se pode fazer sozinho. É impossível ser feliz sozinho. E se você for uma mulher, é ainda mais impossível.
Eu te cócegas, bebê.
(Porque eu te amo já está muito batido)
(Porque amor significa coisas demais para representar o que eu sinto por você)
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Texto inspirado pela @tatikielber, que me pediu para escrever sobre "lacuna emocional" e eu escrevi sobre cócegas. Mas juro que foi pensando em "lacuna emocional". É, gente, normalidade não é o meu forte.
10 comentários:
Querida,
É uma honra ter a oportunidade de ser citada em um texto seu.
De coração, agradeço por ter levado em conta minha humilde sugestão no Twitter, e espero que possamos trocar mais vezes!
Há tmepos admiro sua forma de ser, suas ideias e seu senso de humor imbatível.
Certamente, poucas pessoas traduziriam tão bem a minha ideia de "lacuna emocional" como você o fez nesse texto.
Se te consola... acho que as cócegas são eternas! Não saberíamos viver sem elas.
Um beijo! ^^
Nunca havia pensado nessa definição e acho que calha perfeitamente.
Cócegas na alma... que bela forma de definir o amor.
Aquele que sentimos pelos filhos, então, são cócegas ininterruptas, daquelas de fazer sacudir, de fazer chorar e de rir.
Fiquei muito feliz por encontrar o seu blog.
Um abraço
Fernanda Coelho
aencantadoradepalavras.blogspot.com.br
Lindo texto, nos faz realmente pensar de forma diferente em relação ao amor... Onde a maioria de nos preferiria sentir cócegas ao invés de viver algo angustioso, mas ao invés disso insistem em dizer eu te amo furtivamente, sem nenhum fundamento, apenas pq gosta de estar ao lado do companheiro... Costumo dizer que realmente conheci o amor no nascimento do meu filho, o que sinto por qualquer outra pessoa serão sempre apenas cócegas... Beijo pra vc linda!! E que vc ainda tenha muitas e muitas cócegas pela frente!!
Tenho me vestido de roupas rotas. Palavras tão ásperas que se pode ralar parmesão com elas. Tudo porque não consigo me fazer rir.
Meio que demorei para vir aqui e ler essas tuas cócegas. Não tinha motivos para ler, ler você só por ler, não consigo. Preciso sentir e senti de novo uma cóceguinha aqui e ali.
Como é bom isso.
"O amor são apenas cócegas na alma."
Essa tua criatividade ainda vai me matar, Ali. s2
Se existem formas de definir o amor, a equivalência com as cócegas certamente é uma delas.
Criativa como sempre...escrevi na mente uma espécie de continuidade do teu texto, ele realmente me fez refletir, viajar...
Já senti tantas cócegas e concluí, não há mesmo coisa melhor que morrer de rir com este estímulo involuntário.
Que nunca nos falte quem nos faça cócegas na alma, né?
Beijos!!!
Hoje, passo para te desejar um Feliz Natal e um 2013 em GRANDE!
Beijo
Graça
seu texto me deu cócegas, e umas borboletinhas no estômago também. Adorei. E adorei todo o blog. Uma graça.
Visão interessante do amor! Lindo texto...
Visão interessante do amor! Lindo texto...
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