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domingo, 26 de agosto de 2012

Quero te vomitar

E de tanto te amar, e de tanto te engolir, e de tanto querer fazer nós dois virarmos um, e de tanto te desejar tatuado na minha pele, e de tanto querer sentir o gosto da comida com a sua língua, e de tanto querer enxergar o mundo através do mel dos seus olhos, e de tanto meu querer, quero te vomitar. Me fundo a você demasiadamente. Quero a minha essência de volta. Essa mesma, a que eu nunca tive. Não quero mais me confundir com você. Não quero ficar em dúvida se sou eu que penso ou se é você que pensaria. Cansei de achar que quero uma coisa, mas não saber se quero de forma autêntica, ou se é só pra ser desejada por você. Camaleoo-me por você, independente da minha vontade. Gosto do que você gostaria que eu gostasse assim, sem fazer tipo, verdadeiramente. É como a funcionária honesta e entediada, que odiando o seu trabalho, não pode faltar ao mesmo, e então empresta o seu corpo à doença. Assim sou eu, que pra ser objeto do seu desejo e do seu amor, me torno aquilo que você gostaria que eu fosse. Torno-me desde sempre aquilo que você queria. E ainda assim não é o suficiente. Nunca é. Porque sou aquilo que você queria de um modo desajeitado, e não de forma sexy. Só sei existir torta, e essa é a minha única essência. Porque sempre resta um pontinho de mim pra entortar aquilo em que eu me transmuto. Quero que esse pontinho tome-me toda. Mas ele é mirrado, desnutrido, fracassa toda vez, só sabe ser torto. Saia daqui de dentro de mim. Meu corpo precisa existir em si mesmo. Meu ser quer des-ser. Quero te vomitar.

20 comentários:

Anônimo disse...

Talvez amor seja isso, preferir sentir saudades de você mesmo a ser devolvido a você.

E se fosse devolvido, saberíamos o que fazer com esse novo-velho-eu-sem-você?

Fernanda Siqueira disse...

"Camaleoo-me por você, independente da minha vontade."

E com o tempo, o camaleão se colore dos tons que tocou e que quis. Preenche seu corpo de todos os jeitos, e no fim, só se vê um todo - único, pleno, escondido, querido. E o camaleão se protege, se permitindo ser o outro, como o outro. E bebe o outro, e quer o outro em todo seu ser... E no 'pouso' quieto e imóvel do camaleão sobre o outro, eles se fundem, se tem, e mesmo inconsciente, o camaleão se vê inteiro dependente daquele toque e sabe que um minimo movimento, e todo o colorido se perde. E sabe que, sem o colorido do 'outro', ele só é um camaleão como outro qq, desprotegido e obrigado a se mover enlouquecidamente, simplesmente por não ter um porto - tom de paz e abraço bom, pra ficar tranquilo.

Enfim, pode ser que em um ou outro minuto o camaleão queira ser só ele mesmo, com seu contraste próprio e tudo mais. Por outro lado, ele bem sabe que, uma vez que se deixou colorir-conhecer-amar-querer-ter-ser (no/do outro), mesmo que queira 'apagar-vomitar-esquecer', nunca será ele mesmo-sozinho-vazio (de outros, de tons, de riscos) de novo.

E bem, camaleões-gente bem sabem, que esse é o risco que se corre 'de tanto amar, de tanto engolir, de tanto querer'.

Lindo texto! (:
bj

Ana Clara disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Ana Clara disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Ana Clara disse...

Esse texto nem pediu licença e já foi entrando em mim assim, vestindo-me inteira ao mesmo tempo levando pedacinhos de mim. Alicia escreve essa forma de amar de um jeito tão íntimo que eu só quero pegar todas as palavras e guardar num potinho. @clarinnha_

Ronaldo Fernandes disse...

Já faz tempo que eu não me conheço, eu olho nos espelho e vejo outra pessoa
Já faz tempo que eu não me entendo, cada gesto, palavras, tudo me atordoa
Já faz tempo que eu quero me reencontrar
Já faz tempo que eu quero me reinventar
Já faz tempo que eu quero me redescobrir
ou Me redefinir.
O tempo me levou pra um lugar distante de mim
E construiu um abismo profundo, largo, sem fim
E forte o desejo de retornar
Encontrar meu sorriso perdido e o brilho do meu olhar

Já faz tempo que eu me perdi nessa solidão
Já faz tempo que eu mergulhei nessa escuridão
Já faz tempo que eu quero voltar atrás
Aprender uma nova canção

Danelize Gomes disse...

Linha tênue entre amar e vomitar, que delícia.
Muito bom, Alicia. :*

Anônimo disse...

Sabe o que que a gente vomita? Comida estragada. Pense nisso!

Anônimo disse...

Vomitar?
Moça, vc esta achando que sabe escrever poesia?
Procure no dicionario o que vomitar significa
Antes de achar que esta fazendo um grande feito,combinando Amor com vomito
Amor, com porcaria,que o estomago expulsa,pq nao presta para ficar dentro da gente.

Mente Hiperativa disse...

ACABO DE DESCOBRIR que eu sofro de bulimia amorosa.

Toda vez que amo, ou pelo menos começo a amar - e a me confundir - eu enfio o dedo na garganta da minha mente e vomito o amor pra não me confundir com ele.

Será que tem cura?

Débora disse...

Querido anônimo,
Você sabe o que são as metáforas? E as hermenêuticas? Ah, está precisando delas. Tá?

O texto é lindo e entendi perfeitamente. Muito bom, Alícia.

Anônimo disse...

Cara Alicia
nao tenho twiter pq gasto meu tempo vivendo,por acaso vi meu filho te lendo,e nao, nao comentei duas vezes,o primeiro comentario ja estava,o segundo sim fui eu
E, se vc quer comparar o TEU amor com vomito
Blz
Vc tem todo direito
Do mesmo modo que eu, tenho direito de achar este texto, o mesmo que o titulo uma porcaria
Um vomito
Um lixo
De alguem que acha que literatura boa é escrever baboseiras,para outro bando de gente que,tem a vida tao vazia,ao ponto de achar que partilhar imbecilidades é um grande feit, nem digo isso,pq sou mestre em literatura
Digo isso,como pessoa que usa a internet somente
Fique com Deus,e que ele te ilumine

Anônimo disse...

"nao tenho twiter pq gasto meu tempo vivendo" (mas eu perco tempo entrando no seu twitter pra ver se o que eu falei te alfinetou de alguma forma.) É tão legal ser covarde e assinar como anônimo né? É medo de que? Vomitar ofensas é fácil qnd não se pode mostrar a cara.

Dr.Fernando Lucki Vidal disse...

Acho que estao se ofendendo a toa, nao entrei pra ver se o que falei alfinetou alguem de alguma forma.
meu filho me disse que estavam fazendo alarde e resolvi contemporizar..
Se nao aguentam criticas,nem perderei mais meu tempo com gente de mente limitada
e nao sou covarde, apenas um none nao muda nada
mas se fazem questäo
atensiosamente
Fernando Lucki Vidal

Avesso disse...

Bah, que balde de humildade e sapiência! Subjetividade é para poucos entendedores. No entanto, quando você é objetiva sabe bem do que fala! Adorei o texto e suas colocações...

Fabiana disse...

Belíssimo texto Alice! Seu estilo é único, é envolvente e surpreendente!

Beijos

Alicia disse...

Caro(s) anônimo(s),

ou

Caro Dr Fernando
(se o senhor é MESTRE em literatura, por que o título de doutor?

(se o senhor é mestre em literatura, por que tantos erros de digitação e atenSiosamente com "s", ao invés de "c"?)

(se o senhor é mestre em literatura, por que seu nome não existe no google? geralmente as dissertações de mestrado ficam ali)

"a poesia é a voz que ecoa na
subjetividade humana. Perpassa gerações e transgride os ditos da razão e da norma gramatical.
E sempre encontra alguém por meio do qual se faz presente entre os humanos."

Estude um pouquinho, esse trecho acima é desse texto aqui, que é bem legal, se te interessar o link é: http://www.slmb.ueg.br/paidos/artigos/1_imagetica_do_amor.pdf

E olha, moço, eu nunca disse que eu sei fazer poesia, até porque eu não acho que saiba mesmo. Eu só rabisco umas coisas aqui e espero que as pessoas me digam algo. É o que acontece.

Deixo espaço para comentários porque quero saber o que as pessoas acham dos meus escritos, então agradeço a sua leitura e o seu comentário, e inclusive a participação do seu filho também. Se eu não quisesse saber a opinião dos outros, não deixava espaço para comentários. Se eu não quisesse gente me criticando aqui, ou não soubesse "lidar com críticas" eu apagaria o seu comentário, aliás, os seus comentários.

Assim como ninguém é obrigado a me ler, ou a comentar, também não o é a gostar dos meus textos. E do mesmo modo, também não sou obrigada a acatar as críticas alheias.

E obrigada por gastar o seu tempo "de viver" pra ler meu blog, comentar, e mesmo não tendo gostado, fuçar meu twitter, voltar e deixar outro comentário, etc. Obrigada mesmo.


(Ps: segui sua dica e procurei o significado de "vomitar" no dicionário. Encontrei o seguinte: "Lançar violentamente para fora de si". Olha só, era exatamente isso mesmo que eu queria dizer no texto!)




Beijo!

insonne disse...

Alicia,querida,gostaria muito de poder comentar o texto com a atenção que ele merece.
Como todos os outros,ele ta lindo.E expressa muito de mim,o que não e novidade vindo de você!hehe
Acho que o senhor leitor aí de cima,nunca amou,e pelo visto ta longe de amar.Logo,ele não sabe do que se trata seus escritos.
Flor,o amor é SEU e você o compara com o que você quiser.
E se ele despreza tanto seus escritos,não intendo o que faz visitando seu blog.
Na minha terra isso chama inveja,dor de cotovelo,despeito,entre outros.
PS:Como sempre ARRASOU!!!Lindo texto,e se querer 'vomitar alguém' é feio ou errado,confesso que tenho errado feio.
beiJuh :*

Nina disse...

Nos apaixonamos para que o outro nos leve a essência. É um mal devido, um risco que se corre. E quem disse que o outro também não tem a essência vital roubada por nós?
Abraços.

Sabryna Gonçalves disse...

Senti o texto me penetrar, e relembrei algo*, se não for amor não sei o que seja meu bem u.u
Beijos