Sou eu mesma desde que me conheço por gente e ainda não me acostumei comigo.
Mas sei que sem mim as coisas me seriam muito mais difíceis.
É estranho ser uma multidão em apenas um corpo.
É claustrofóbico não poder sair do meu corpo com o tanto de gente que tem aqui.
Preciso me focar nas minhas janelas, que são os buracos do meu corpo.
Me apoio no olhar e de repente já não sei mais o que vi.
Me concentro na minha audição, no meu paladar, nos meus sentidos - que de particípio só têm a conjugação...!
Sou puro gerúndio.
O presente do indicativo é carinho na minh´alma.
O imperativo me excita.
O pretérito só sabe lembrar das minhas imperfeições.
O futuro tem a audácia de me voltar ao pretérito.
Malditos tempos.
Desde que conheço o relógio só sei odiá-lo sem poder deixá-lo.
Desde que conheço o espelho só sei amá-lo sem querer a minha imagem.
Queria um pedaço de espelho que fosse comestível.
Queria comer-me.
Narcisismo.
Autofagia.
Sumi.
(UFA)
3 comentários:
Isto que é ter facilidade em escrever, dizer tudo quando não se quer dizer nada, falar de si mesma e ao mesmo tempo descrever o mundo!
Bjos
Concordo com a Malu, inclusive já disse aqui várias vezes que admiro o teu jeito VISCERAL de escrever, como se as palavras fossem um grito que parte de dentro, de seus órgãos, de sua carne. Acho isso incrível.
Quero te convidar pra conhecer minha página no face: https://www.facebook.com/mentehiperativa2
Bjo
O engraçado e que acho que é seu segundo texto que leio esta semana que tem uma antropofagia de si mesma rsrs. Gerúndio, intermitente, não começa nem termina é nunca, obra sem fim, é uma inconstância que as vezes dá no saco né, mas é assim. Adorei o texto.
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