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sábado, 29 de dezembro de 2012

É grave, doutor?


Há quem sofra muito, e por isso escreve. 
Eu escrevo, por isso sofro.


quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Quero me vomitar

Minhas ausências estão transbordando.
É estranho estar cheia de vazios.
Tenho tido náuseas e ânsias de vômito.
Queria poder vomitar todo o amor que sinto.
Enjoei de mim, estou cheia de amar, não quero mais vazios que se enchem.
Quero um pedaço de puro vazio.
Sinto como se todo o interior do meu corpo, que sempre senti oco, estivesse cheio de amor.
Digo "é o calor", como se eu acreditasse que a temperatura do mundo e a temperatura do meu corpo fossem mesmo coisas diferentes.
Cansei de me misturar ao mundo.
Cansei de me misturar às coisas e às pessoas.
Cansei de ser madeira, plástico e comida.
Cansei de ser letra, prosa e poesia.
Eu só queria descansar da minha existência.
Deixa eu te ser só por amanhã.
(Hoje não, preciso me despedir de mim.)
Me empresta a sua carne, divida a sua pele comigo.
Permita que eu enxergue com os seus olhos, que eu sorria com os seus lábios.
Preciso do seu cérebro para organizar as coisas que sinto.
Cansei de sentir.
Sinto muito.
Preciso sentir menos. Preciso sentir mais. Preciso sair daqui, estou claustrofóbica dentro do meu corpo.
Preciso de ar.
Preciso de desamor.
Preciso não precisar.

(Então alguém liga o ar condicionado e eu deixo isso tudo pra lá)

Quero uma frente fria na minha alma.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Cócegas

Sinto apenas cócegas por você.
E aí digo que é amor.
Cócegas são pequenas angústias. Ou grandes angústias, dependendo da intensidade.
Cócegas são a denúncia de que não controlo o meu corpo, de que não controlo os seus movimentos, de que não controlo as minhas sensações.
O amor são apenas cócegas na alma.
Por mais que eu saiba que você vai me tocar com uma intensidade que oscila entre leve e agressiva, acima do meu ossinho da bacia, morro de agoniazinhas. Grito como se não acreditasse que sou dona de mim. Faço escândalo como se eu não fosse preocupada com a imagem que passo para as pessoas ao meu redor. Te arranho como se eu não me importasse com o susto que te causo.
E acho que a minha parte que mais de aproxima de mim, é assim mesmo. Machuca, desdenha, escandaliza. A minha parte que mais se aproxima de mim, me assusta.
E aí eu me visto, tal como uma cebola. (Porém mais lady).
Me visto de palavras, sapatos, roupas minimamente da moda e de ideias politicamente corretas sobre a minha pessoa.
E então acho que sou uma pessoa relativamente normal, relativamente  equilibrada, relativamente educada, relativamente bem-adaptada, relativa-mente. Ah, como sou mentirosa!
No fundo sei que sou um poço de loucura, lutando avidamente para me disfarçar sem morrer. Porque se deixo de ser louca, deixo de me ser, e então morro. E se enlouqueço sem amarras, morro ainda assim.
A loucura mata, mas a normalidade mata ainda mais.
Prefiro morrer de morte vivida do que de morte morrida.
Prefiro morrer de cócegas a morrer de angústia.
Ao menos nas cócegas, há alguém me tocando. (A angústia é a pura solidão) Vocês sabem, é impossível que façamos cócegas em nós mesmos. As cócegas são a encarnação da falência dos livros de autoajuda. Tem coisas que simplesmente não se pode fazer sozinho. É impossível ser feliz sozinho. E se você for uma mulher, é ainda mais impossível.
Eu te cócegas, bebê.

(Porque eu te amo já está muito batido)
(Porque amor significa coisas demais para representar o que eu sinto por você)



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Texto inspirado pela @tatikielber, que me pediu para escrever sobre "lacuna emocional" e eu escrevi sobre cócegas. Mas juro que foi pensando em "lacuna emocional". É, gente, normalidade não é o meu forte.

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

parece tpm, mas não te interessa o que é

meu corpo queima e não há o que fazer.
queria sair correndo, queria chorar, queria um chocolate pra alma, queria não querer coisa alguma.
respira e vai, menina, logo passa. eu digo pra mim mesma. mas queria que fosse uma voz que viesse de fora. queria um beijo que viesse de dentro. queria uma palavra que me calasse a boca do estômago.
sexto sentido, alguma coisa vai acontecer. seria, se alguma vez eu tivesse notícias disso. sou uma topeira, não vejo nem a cor da parede, vou notar algum saber em mim? sim, eu noto.
sei mais de dentro de mim do que do sofá da minha casa.
tenho alma colorida e tagarela, irritante como a poliana.
já a minha razão, tem 50 tons de cinza, isso mesmo, uma porcaria.
parece crise existencial, mas é apenas tpm.
parece tpm, mas sou apenas eu em mim.
me sou insuportável.
aí eu tinha conseguido esconder de mim a minha irritação comigo ao longo do dia e acabei de encontrá-la novamente.
é que no fundo eu amo as minhas mini-crises existenciais.
é que no fundo eu nunca saio delas.
é que no fundo sei que existo por causa delas.