Sou tão você que me confundo comigo.
Meu corpo não tem fronteiras e só quer sentir com o seu corpo.
O toque se faz insuficiente, quero me fundir a você, quero que meu corpo coincida com o seu para que eu possa, enfim, descansar a minha existência.
Silêncio... , está ouvindo? É a minha intuição me dando bronca.
Minha intuição manda que eu me cale. Ela disse que já estamos fundidos. Você não. Eu estou fodida.
Foi naquele dia, há anos atrás, eu sei exatamente quando. Eu estava ali parada, e ao lembrar do seu olhar senti um frio na barriga. Não foi um frio na barriga dessas borboletas que o povo diz que sente no estômago. Foi um frio na barriga do tipo que a gente sente quando pula de paraquedas (é claro que eu nunca pulei de paraquedas, mas deve ser assim). Foi um frio na barriga de montanha-russa. Um frio na barriga que é físico, e não imaginado.
Então, foi naquele dia, eu lembrei do seu olhar me olhando, do seu olhar me agredindo, do seu olhar me convidando sem você saber, e eu caí pra dentro de você! O frio na barriga foi o que eu senti quando minha alma foi sugada pra dentro do seu corpo pelo seu olhar.
E aí tem só um pouquinho de alma minha no meu corpo, e aí tem um pedaço guloso de alma minha dentro do seu corpo.
Você nunca percebeu? Ah, vá, você só pode estar tirando com a minha cara, né! Presta atenção no sangue que corre pelo seu peito, que desce para a sua barriga, sinta o seu sangue borbulhando...Você não borbulhava antes de mim, só corria.
Sei que você não acredita em mim. Que é racional demais para acreditar que parte minha vive embaixo da sua pele. Mas sei que você também tem medo. Sei que no fundo, você treme de medo que eu sugue a sua alma. Pois saiba que faço um imenso esforço para te preservar. É te preservando que me protejo de mim.