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quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Caí

Sou tão você que me confundo comigo.
Meu corpo não tem fronteiras e só quer sentir com o seu corpo.

O toque se faz insuficiente, quero me fundir a você, quero que meu corpo coincida com o seu para que eu possa, enfim, descansar a minha existência.

Silêncio... , está ouvindo? É a minha intuição me dando bronca.

Minha intuição manda que eu me cale. Ela disse que já estamos fundidos. Você não. Eu estou fodida.

Foi naquele dia, há anos atrás, eu sei exatamente quando. Eu estava ali parada, e ao lembrar do seu olhar senti um frio na barriga. Não foi um frio na barriga dessas borboletas que o povo diz que sente no estômago. Foi um frio na barriga do tipo que a gente sente quando pula de paraquedas (é claro que eu nunca pulei de paraquedas, mas deve ser assim). Foi um frio na barriga de montanha-russa. Um frio na barriga que é físico, e não imaginado.

Então, foi naquele dia, eu lembrei do seu olhar me olhando, do seu olhar me agredindo, do seu olhar me convidando sem você saber, e eu caí pra dentro de você! O frio na barriga foi o que eu senti quando minha alma foi sugada pra dentro do seu corpo pelo seu olhar.

E aí tem só um pouquinho de alma minha no meu corpo, e aí tem um pedaço guloso de alma minha dentro do seu corpo.

Você nunca percebeu? Ah, vá, você só pode estar tirando com a minha cara, né! Presta atenção no sangue que corre pelo seu peito, que desce para a sua barriga, sinta o seu sangue borbulhando...Você não borbulhava antes de mim, só corria.

Sei que você não acredita em mim. Que é racional demais para acreditar que parte minha vive embaixo da sua pele. Mas sei que você também tem medo. Sei que no fundo, você treme de medo que eu sugue a sua alma. Pois saiba que faço um imenso esforço para te preservar. É te preservando que me protejo de mim.

domingo, 11 de novembro de 2012

Das sabedorias femininas



Thais, 24 anos "... aí eu ganhei um roller do papai noel" 
Gabi, 10 anos "...manhêêê, ela ainda acredita em papai noel?"

A gente sempre acredita. Em tudo. De Papai Noel à palavra de homem, passando pela fada dos dentes e pelo amor. 
A Gabi também disse que sabe como chorar mesmo sem estar tão triste, pra conseguir o que quer. A Thais recomendou à Gabi que aproveite esse tempo da vida, porque depois dos 20 os homens nos deixam chorando sozinha.
Vocês que me acompanham aqui, bem sabem que não preciso de muito pra ter uma crise existencial, né. Pois hoje fiquei impressionada com a sabedoria da Gabi, uma menina de 10 anos. Olhei pra ela e pensei que na idade dela, eu também sabia as coisas que ela sabe (ainda que ela tenha anos-luz mais desenvoltura do que eu tinha na época), mas aos plenos 27 anos de idade não aprendi muito mais coisas. 
E quando a Thais disse que depois dos 20 não adianta chorar, pensei que isso é bem verdade, mas então por que ainda faço isso? 
Essa história de que as mulheres choram porque querem conseguir as coisas, acho que funcionam, sim na infância, a Gabi bem sabe disso. Só que depois a gente continua fazendo isso sem perceber que parou de funcionar. Porém, contudo, entretanto, todavia, no entanto, já percebi que choro muito mais gostoso quando tem alguém comigo, do que sozinha, no banheiro. E rio também. Não consigo gargalhar sozinha. E não é apenas porque me sinto ridícula, mas é que eu não tenho vontade mesmo.
Há algum tempo comecei a reparar nisso, os homens se matam de rir SOZINHOS com aqueles vídeos ridículos do partoba. Eu posso ver a coisa mais engraçada do mundo que solto um discreto "rs" se tiver sozinha, mas se estou com alguém, rio até a barriga doer.
Essa reflexão pode parecer inútil, e é mesmo, mas eu só queria dizer que tenho pensado que nós, mulheres, somos muito mais dependentes de alguém, do que supomos.
E cada vez me parece mais ridículo, idiota e sem-sentido as filosofias de autoajuda que propõem "seja feliz sozinha" pra depois ser feliz com alguém.
Olha, impossível.
Então eu apenas espero poder continuar acreditando. Seja lá no que for.



* No fundo toda mulher é uma menina de 10 anos, que nem acredita mais no amor, mas que acredita que alguém ainda a fará acreditar nele. E então ama.

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Talvez

Algo ameaça a mudar e estou me desequilibrando. Talvez eu caia. Talvez eu volte ao meu equilíbrio costumeiro. Talvez eu mude o meu ponto de equilíbrio. Talvez eu esteja supervalorizando a minha mini-mudança. Talvez nem seja uma mudança. É possível que não seja uma mudança, ainda que algo mude, e saber disso me dói. Mas é de talvezes que se faz um amor e é de talvezes que se faz uma vida. É de talvezes que eu me faço. Talvez eu me case, ou compre uma bicicleta. Talvez eu deva ir me foder por escrever palavras tão ridículas. Acontece que sou uma apaixonada pela pequenez humana. O ser humano é tão medíocre...e eu sou cretinamente apaixonada por essa condição. Isso faz de mim um talvez ambulante, que nada sabe fazer, e que se engana achando que é resiliente, quando é apenas babaca. Isso faz com que eu ame e ache que isso é grande coisa. O amor, às vezes e na melhor das hipóteses, serve pra atrapalhar. E na maioria das vezes, o amor não serve pra nada. Pode soar pessimista, vocês podem achar que eu não conheço o amor ou qualquer blá-blá-blá que conforte vocês na ideiazinha de que o amor é lindo...e hahahahaha, me desculpem, gente. Mas o amor é ridículo. Eu amo o amor, eu amo amar, eu não seria eu se não amasse ou se não fosse amada. Mas preciso confessar a vocês que até mesmo o amor se mostra pequeno diante da vida. Não porque o amor seja pequeno, o amor é milagreiro, mas é que o ser humano consegue afundar com qualquer coisa que chegue até as suas mãos, até mesmo com o amor. Só que o amor continua sendo lindo, mesmo estando fodido - eis todo o problema.