Sempre fui muito difícil de me encantar com as pessoas. Sou
alguém legal, que se dá bem com a maioria das pessoas, sou alguém que odeia
pouquíssima gente. Sou alguém que gosta de muita pouca gente também. A maior
parte das pessoas é indiferente pra mim. Aí, desde sempre, enquanto as minhas
amigas se apaixonavam por 3 pessoas por quadra, eu ficava com o coração
encalhado. Me acostumei à calmaria de ter o controle do próprio batimento cardíaco. Aprendi a encaixar a minha alma perfeitamente ao meu corpo.
E assim eu dormi na vida. Dormi, uma bela soneca. Foi mais ou menos
o seguinte. Eu era criança e queria que o tempo passasse logo pra eu poder pintar as
unhas de esmalte vermelho, usar salto alto e trabalhar fora de casa, aí o tempo não passava e eu reclamava, e puxa, era incrível como entre um ano e outro se passavam décadas. Um dia, de repente, eu acordei e tava num
corpo de 20 e poucos anos (como naquele filme "de repente 30", só que com menos dinheiro e com bem menos sensualidade), completamente enrolada em mim, pedindo a sua ajuda! Acho
que assim, quando a gente ama, quer ser correspondido. Né? É. Eu nunca quis que
você me amasse, eu só queria que você me mantivesse acordada. É como se antes de
você, eu existisse numa outra dimensão. E você me trouxe para esta, a da
realidade. É como se eu fosse espermatozóide e óvulo antes de te conhecer. Não me lembro bem de quem eu era. Acho que eu não existia, apesar de existir. Você me acordou de um sono idiota que eu dormi em plena BR, um
perigo. Lembrei agora da Bela Adormecida. Ah, a Aurora! (Sim, vocês sabem que
sou uma eterna idiota romântica). Assim como o príncipe beijou a Aurora e ela
acordou, você fez comigo. Só que de uma forma muito mais real. Talvez você
tenha me acordado com uma baforada do seu maldito cigarro, ou talvez tenha me
acordado da forma como eu gosto de pensar que foi: com o seu olhar. E agora eu
me ferrei, bem. Toda vez que você pisca, eu deixo de existir. Virei prisioneira
das suas pupilas. Pago o preço que custar pra continuar existindo nos seus
olhos. Não me liberte, por favor.
domingo, 29 de julho de 2012
domingo, 22 de julho de 2012
Saudades
1 - Sinto saudades do menino besta que você era.
Da cara de
pseudo-segurança com a qual me olhava, e me deixava sem-graça.
2 - Sinto saudades
da sensação paranóica que eu tinha de que você lia os meus pensamentos.
De todo o esforço
que eu fazia para que os meus olhos, ou cada um dos meus poros, não denunciassem que eu já te amava, muito antes de dizê-lo.
3 - Sinto saudades
do esforço que eu fazia pra disfarçar a taquicardia que você me provocava a todo o instante.
Antes de te amar,
eu nunca tinha sentido o meu coração. Eu nem sabia que ele ficava mais para o
meio do meu corpo do que "do lado esquerdo do peito", como dizem. (É,
o amor ensina biologia, minha gente)
4 - Sinto saudades
do brilho dos meus olhos, que timidamente olhavam para o brilho dos seus.
E você nunca
ficava encabulado quando eu te fitava com a curiosidade com a qual uma criança
que mora na cidade fita o mar pela primeira vez.
5 - Eu sinto
saudades da hiperatividade adolescente das suas mãos, que estavam em todos os
lugares ao mesmo tempo.
6 - Eu sinto
saudades do sabor dos seus sonhos, quando você acreditava na beleza da maioria
das pessoas.
7 - Eu sinto
saudades dos seus carinhos gratuitos, que vinham sempre acompanhados de
demandas dos meus carinhos, que tímidos que eram, tinham medo de te assustar.
8 - Eu sinto saudades do coelhinho, das tardes e noites de sótão,
Dexter, Lost, coca-zero, chocolate, dos poemas do Neruda, das legendas
românticas nas fotos do Orkut, e da trilogia do Senhor dos Anéis que eu nunca
conseguia assistir acordada.
9 - Eu sinto saudades de quando você tinha alucinações visuais ao
me ver, porque só isso explica o fato de você não enxergar as minhas estrias, o meu mau-humor, as celulites, as chatices com picuinhas, as gordurinhas
localizadas, as incongruências, ou
quaisquer defeitos, e só sabia me achar perfeita.
Cada uma dessas saudades me dói profundamente, cada vez que me
acometem.
10 – Mas a principal é que... Eu sinto saudades de quem nós éramos naquele tempo. E essa é
a saudade que mais dói, porque eu não quero voltar no tempo. A nostalgia é uma
delícia quando se deseja ser ontem. Mas eu amo ontem o suficiente para
deixá-lo. Aí a nostalgia fica esquisita. Até porque, o ontem continua hoje. As pessoas que éramos coexistem em nós, ainda hoje, mas são óbvias demais para que nós a percebamos. Tenho saudades porque as saudades também provocam dores boas. Sei que
eu te amo porque tenho saudades de ti todo o tempo, dos muitos homens e meninos
que coexistem em você, inclusive de todos os que você virá a ser. Sinto saudades do
que ainda nem nos tornamos. Sei que eu te amo porque o passado, o presente e o futuro
ficam todos mesclados em mim. Sei que eu te amo porque me fundo a você, como
num bolo mármore, onde você pode ver o que é um e o que é outro, mas não
consegue separar o que é um e o que é outro. Sei que eu te amo porque esse
negócio que eu sinto e chamo de amor, me põe a escrever um texto
esquizofrênico. Mas é assim que eu te amo, barão, de um jeito esquizofrênico.
sábado, 14 de julho de 2012
O amor tem gosto de sangue
Te cedo o meu corpo, porque você sabe lidar com ele muito
melhor do que eu. Tento deixar a minha alma de lado e deixar de existir por um
instante, pra poder ser sua. Como é difícil fazer o que é fácil.
Mas tenho sempre esse empuxo a complicar as coisas. O
complexo me atrai, a simplicidade me repudia. Isso. É a simplicidade que não
gosta de mim, e não eu quem não gosto dela. Na verdade eu amo a simplicidade, e
acho que luto muito para encontrá-la. Mas ela é demasiadamente complexa, já nos
advertiu a Joana, da Clarice. Só sei te amar de um modo complicado. Falo, falo, não me contento.
Vou pra lá e pra cá sem me dar conta de que não saí do lugar. E você, que às vezes
parece não me amar, às vezes parece que sabe mais do amor do que eu mesma, que o tenho o amor como projeto de vida. Acho que você me ama de um jeito descomplicado. Tenho inveja de você. Sim, eu, uma mulher, tenho inveja de um
homem. Inveja do pênis, diriam os freudianos. Mas é inveja do amor. Morro de
inveja do seu modo simples de me amar. Diz que me ama de vez em quando, me
mostra que isso é verdade todos os dias, e ok, é isso, existe paz no seu amor.
Já o meu amor, não me dá sequer uma amostra grátis de paz. Me diz coisas horríveis, me sussurra coisas
lindas. Não me deixa ser plenamente feliz e nem infeliz. Deve ser bom ser
plena, ainda que na infelicidade. Mas fico tomando choques térmicos da minha
intensidade. Indo do céu ao inferno o dia todo. Você não sabe o tormento que é
te amar, menino. A minha maior prova de amor por você é tolerar o meu amor por
você. Tolerar você, por vezes é chato, mas o difícil mesmo, é me tolerar te
amando. Como é difícil não ter garantias. Como é difícil gostar de viver nesse
limbo que eu crio e alimento todos os dias. Como é fácil complicar. O amor tem
gosto de sangue. E eu sempre fui dessas que ao se cortar, gosta de sentir
rapidamente o sabor do sangue, mas não daria de conta de me embebedar dele. É
isso. Quero sentir o gosto do amor, mas não dou conta de me embebedar dele. Garçom, um copo de amor, sem sangue, por favor.
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