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domingo, 18 de dezembro de 2011

Sobre a TPM da mulher, e não essa que o imaginário dos homens carrega


imagem daqui


Não sou dona do meu corpo. Isso é uma coisa estranha. Tive educação religiosa e vivi um bom tempo da minha infância e adolescência entre freiras. Não sei se por isso, não sei se é coisa minha, não sei se é chatice minha, mas encasqueto com a ideia de que o meu corpo não é meu. Ele pertencia aos meus pais, quando eu era pequena e mesmo depois de adolescente, quando eu precisava fazer campanha pra que eles me autorizassem a pôr piercing no umbigo. Ele pertencia a Deus quando eu acreditava ser católica. E talvez se eu não gostasse de pensar (ou de pensar que penso) eu acreditasse que hoje, o meu corpo pertence ao homem que eu amo
.
Mas quando eu afirmo, hoje, que o meu corpo não me pertence, refiro-me a alguma outra coisa. É claro que eu sou dona dos meus movimentos corporais. Posso andar, dançar e mexer a barriga de um jeito que a maior parte das pessoas não consegue, porque eu mando nos movimentos do meu corpo. Mas isso não quer dizer que ele me pertence, de fato.

(Se você é homem e tá pensando aqui que eu sou completamente louca e chata, favor parar de ler a postagem aqui, e nem se atreva a comentar dizendo que as coisas são assim mesmo e blablablá autoajuda barata.)

Meus parênteses podem dar margem para as pessoas chatas (tipo eu) dizerem que sou sexista. Mas me refiro aos homens, simplesmente porque vou dizer aqui da influência que os hormônios têm no corpo de uma mulher. Os homens podem achar que essa coisa de TPM é balela, desculpas para as mulheres terem carta verde pra ter chiliques sem se responsabilizar por eles. E muitas vezes isso é verdade. Então, quando digo de TPM, refiro-me não às oscilações de humor ou vontades de comer chocolate, mas falo de como é uma coisa sem explicação, isso de se sentir uma estranha dentro do seu próprio corpo. Não que eu me sinta confortável com o meu corpo nos outros dias, mas isso acontece de um jeito diferente. Normalmente esse desconforto de mim mesma se reflete na roupa que não fica do jeito que eu queria, no espelho que me mostra de um jeito que não é o que eu imagino, na pele que tem uma textura que não corresponde à imagem da gostosona da revista, photoshopada. Na TPM, essas representações caem. Fico triste e não consigo etiquetar um motivo. Me sinto deslocada do meu corpo, e não me parece que o problema seja a roupa. As pessoas dizem coisas que são extremamente desagradáveis, o mundo gira muito devagar, e eu sei que não é o mundo de fora que está estranho, mas o mundo de dentro. 

Sim, eu sei que na TPM o nível de estrógeno e progesterona se elevam, alterando a comunicação com os neurotransmissores e nhenhenhém. Mas eis que saber disso não basta. Ou quando você tem dor, o fato de você saber qual é a causa dela, faz parar de doer? Saber intelectualmente não serve pra nada. Qualquer um que já se apaixonou ou já tentou fazer regime, sabe disso.

Enfim, pra variar estou sendo prolixa. Mas o que eu quero dizer é que eu não mando no meu corpo, embora eu more nele. É como se eu não tivesse casa própria, mas pagasse aluguel. As coisas não são do jeito que eu queria, eu sempre tenho muitas ideias de como poderiam ser melhores, e eu nem tô falando de celulites, estrias, varicoses ou todas essas merdas que a mulher tem muito mais propensão a ter do que o homem. Porque sangrar todo mês não bastaria, né, deus? Tem que nos presentear com um monte de perebas, nos fazer gestar, parir e amar, que é a coisa mais difícil de todas. Daí depois de tudo isso, vocês ainda querem que eu seja cristã?

(Obs: esta última frase é uma IRONIA, o post é sobre TPM e não sobre religião. Assim, só pra deixar claro)            

5 comentários:

M. disse...

Tens que experimentar o poder da mente sobre o corpo!!!! lol

Curiosa a tua forma de dizer as coisas...Muito!

Jazz @brabul disse...

E como não ficar de mau humor com tanto líquido retido, com peito duro, pesado e dolorido? Com espinhas saltando em plenos 30 anos? Ai, ai... #SOFRO

Belo texto.

Carina Destempero disse...

Acho que ainda pior do que não ser dona do próprio corpo é não ser dona da própria mente. Aceitar como Freud postulou que “O eu não é o senhor da sua própria casa.” é difícil. Até porque como vc mesma disse o saber não adianta nada.
Adorei muito, muito!

Danelize Gomes disse...

E é por isso que tu honra teu "nao_toda". É dona de toda tua mente, mas não se sente dona do teu corpo.
Gostei do texto, Alicia.
E sim, com todas essas maravilhas que "Deus" nos coloca no corpo, ainda querem que sejamos cristãs...

"Saber intelectualmente não serve pra nada. Qualquer um que já se apaixonou ou já tentou fazer regime, sabe disso". Perfeito!

Karla Tabalipa disse...

Agora pense em uma grávida, que fica de 'TPM' durante 9 meses. Tenso, muito tenso! :P
E eu amei o texto, claro!